Diz o dicionário que um pântano é um lamaçal formado numa depressão de terreno barrento. Para António Guterres, em 2001, foi a gota de água. Ficou para os anais da política a frase “Vou-me embora, não estou para governar sobre o pântano”, quando se demitiu na sequência da derrota nas eleições autárquicas. Uma decisão surpreendente, já que o poder municipal não era impeditivo das normais funções de governação. A pestilência que se tornou insuportável para Guterres era, afinal, outra: tinham sido dois anos carregados de incidentes, casos e casinhos, com duas remodelações do executivo em apenas quatro meses. Há quem diga que a comissão parlamentar de inquérito às denúncias de corrupção na Junta Autónoma de Estradas (JAE), que começara anos antes e que culminou na extinção deste organismo, foi um dos momentos que mexeram com os seus valores morais. “De concreto, nada ficou provado sobre a existência de corrupção. (…) Mas saltou aos olhos que o funcionamento da JAE não era um espelho de virtudes e uma referência de como se deve comportar a gestão dos interesses do Estado. O espírito de facilitismo e de amiguismo, do fazer obra a todo o custo, de deixa andar desde que role, é notório quando se vê a forma como a JAE trabalhava”, escrevia, em 1999, a jornalista São José Almeida, no Público.
O tempo passa, mas há vícios na gestão da coisa pública que permanecem. E um certo clima pestilento sente-se, novamente, no ar. Há casos e casinhos, remodelações e demissões. E também uma comissão parlamentar de inquérito ao ativo tóxico que é a TAP. Ainda a parada vai no adro e já se percebeu com clareza o que se deixava intuir: a leviandade da gestão política, as más práticas, os abusos e os compadrios que ficam irremediavelmente escancarados.