Cara Margarida:
Estou a chegar aos 38 anos no Outono que se avizinha, sou solteira, vivo sozinha num apartamento comprado com o meu dinheiro e desempenho um cargo de chefia numa empresa multinacional. Sou a mais nova de 4 irmãs de uma família ‘à antiga’. Todas as minhas irmãs casaram cedo, antes dos 30. Eu cheguei a estar noiva, mas percebi a tempo que aquela pessoa não era quem eu queria para passar o resto da minha vida e desmanchei tudo duas semanas antes, para grande pesar da minha família. Não foi uma decisão fácil, mas senti que era o melhor para mim. Tinha 29 anos. Pouco tempo depois aceitei o desafio da empresa onde trabalhava para ir para Madrid onde vivi 6 anos.
Regressei a Lisboa com 35, há três anos, e comecei a sentir o relógio biológico a trabalhar de forma infernal. Tenho 9 sobrinhos e sinto uma grande pressão da minha família para ‘assentar’ como dizem. O pior é encontrar com quem. Parece que na minha geração nem todos têm sucesso, há muitos tipos a viver em casa dos pais cheios de vícios de meninos mimados, com dinheiro para copos e extras, mas sem consistência nem planos para o futuro. Uns não trabalham, os outros fumam e bebem e vivem de biscates, outros são caóticos no seu dia-a-dia, por isso foram passando vários até eu me fartar. E agora estou sozinha. Detesto a solidão, não sei se não estarei a ser demasiado exigente. Qualquer dia passa o tempo de ter filhos e então é que fico mesmo sozinha.
Mafalda, Lisboa.
Mafalda, tenho boas notícias para si. Ao contrário do que acontecia antigamente, ainda tem bastante tempo para ser mãe. A medicina avançou muito na questão da maternidade tardia, portanto penso que esse é o menor dos males. Não antecipe problemas, tente resolver o que tem. Além disso os filhos só nos fazem companhia durante 16 anos, depois começam a ter a vida deles, é a ordem natural das coisas.
É claro que é uma grande chatice estar sozinha, mas pode sempre fazer as seguintes perguntas a si mesma: prefere estar com um indigente que vive às suas custas, ou sozinha? Prefere ter um bêbado em casa, ou estar sozinha? Prefere um tipo que trabalha e parece bom tipo mas que a engana com outras, ou estar sozinha? São estas as perguntas que faço às minhas amigas que se queixam de solidão. E acredite, se precisa de companhia, conte com as suas amigas solteiras, com a sua família, com os seus sobrinhos e os seus amigos gays, compre um cão se for preciso, mas não conte com um homem para isso porque não é assim que o mundo está organizado, nunca foi e penso que nunca será. É claro que existem exceções, homens com um rol de qualidades espetacular, entre as quais, serem boa companhia e fazerem companhia, mas são raros. Se cresceu a acreditar que vai encontrar o Mister Right e se assistiu à série O Sexo & a Cidade, lembre-se que as personagens que encontraram o seu Mister Right, nem sequer o consideraram à partida como candidato. Infelizmente fazemos parte de uma geração que acredita que consegue tudo, mas não é assim. Como em tudo na vida é preciso sorte. Não escolhemos o dia em que nascemos e morremos, a nossa família, o nosso ADN. A vida ensina-nos a perceber como somos mais felizes. Se quer um tipo à sua altura, procure sem pressas. Se não quer ficar sozinha, acomode-se a um que sirva mais ou menos. Nem sempre resulta, é preciso ter feitio. Nada como conhecer-se a si mesma para perceber o que a pode fazer mais feliz. E peça à sua família para não a chatearem mais por não seguir o modelo de vida que eles têm. A liberdade individual deve estar acima de tudo. Boa sorte.