Na semana em que os Excesso voltaram a reunir-se para um concerto de despedida, outra figura marcante da década de 90 pôs fim a um longo silêncio. Cavaco Silva também quis assinalar uma despedida, mas a de António Costa. Tanto no 3º Encontro Nacional de Autarcas Social-Democratas como no 38º encontro do clube de fãs do Duck, cheirava a fim de ciclo. Parece difícil que Melão, Gonzo e companhia tenham pedalada para mais concertos como os desta tour Até ao Fim, e também custa a crer que António Costa consiga levar esta legislatura até ao fim. E pronto, acabaram-se aqui as analogias entre a primeira boy band de Portugal, composta por cinco moços bem constituídos, e o primeiro de Portugal, descomposto por não respeitar a Constituição (agora é que foi a última). Cavaco Silva acusou Costa de não desempenhar as competências que a Constituição define, e deixou uma sugestão. “Às vezes, os primeiros-ministros, em resultado de uma reflexão sobre a situação do País, depois de um rebate de consciência, decidem apresentar a demissão e dar lugar a eleições antecipadas”, disse o ex-Presidente. “Às vezes, os maridos, em resultado de uma reflexão sobre a situação do casamento, depois de um rebate de consciência, decidem presentear as mulheres com uma joia caríssima”, digo eu, muitas vezes, cá em casa. Esperemos que o primeiro-ministro seja mais perspicaz do que o meu marido.
O secretário-geral adjunto do PS, João Torres, acusou o antigo Presidente da República de “violência verbal”, o que, além de nos obrigar a procurar novas palavras para descrever as chamadas telefónicas entre João Galamba e Frederico Pinheiro, é uma queixa tão exagerada como a que estes fizeram à PSP. Torres fala de uma linguagem “absolutamente lamentável (…) que até vai para lá do que são os limites aceitáveis em democracia”. Não se percebe se ainda estava a falar das críticas do antigo Presidente português ou se já tinha mudado de tema, para as palavras racistas dos adeptos espanhóis. Haver gente a criticar duramente o Executivo costuma até ser sinal de que a democracia está de boa saúde. Reconheço que chamar ao PS “especialista em propaganda, mentiras e truques” talvez tenha sido um exagero, porque pelo que temos visto na CPI, não são assim tão bons. Parecem mesmo uns amadores. O primeiro-ministro não gostou nada da intervenção de Cavaco Silva, o que é natural. Isto foi como, na véspera de um derby, o Benfica descobrir que o Sporting arranjou maneira de ressuscitar Peyroteo, na plena posse das suas capacidades. “Ai, vale velhas glórias?”, estará a pensar António Costa, enquanto mete os papéis para convocar Mário Soares. Costa acusa a direita de criar uma crise política artificial neste timing específico, para evitar que os portugueses sintam o benefício da recuperação económica. Como quem diz: se o discurso de Cavaco fosse daqui a um mês já ninguém o ouvia, distraídos que estávamos nos iates que vamos adquirir graças ao louco aumento do poder de compra.
Excesso de linguagem

O primeiro-ministro não gostou nada da intervenção de Cavaco Silva, o que é natural. Isto foi como, na véspera de um derby, o Benfica descobrir que o Sporting arranjou maneira de ressuscitar Peyroteo, na plena posse das suas capacidades
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