Eder demonstrou, ao longo da sua carreira, ser capaz do pior e do melhor. Falhou vários golos cantados, mas marcou o golo que mais nos fez cantar. Na final do Euro não foi diferente, deu uma no cravo e outra na ferradura. Por um lado, aquele golo. Por outro, a dedicatória: “Acho que vocês deviam conhecer a Susana Torres.” Demorámos a seguir esta sugestão do Eder porque nos seduziu mais aquela outra, de 10 de Julho passar a ser “feriado, c******!”. Para conhecer melhor Susana Torres basta assistir às entrevistas que tem dado, falando acerca do trabalho que fez com Eder. No fundo, Susana está para o coaching como os Tetvocal estão para a música: o último projecto relevante foi há muitos anos. Diz-se que quem conta um conto acrescenta um ponto, mas Susana Torres começou a acrescentar tantos que Eder ficou reticente. A história começou simples: era uma vez uma coach que ajudou um atleta inseguro a ganhar confiança, ele marcou um golo que valeu um campeonato, e viveram felizes para sempre. Porém, Susana quis acrescentar capítulos e aconteceu como nas novelas que são esticadas: a trama começa a ficar desconexa. A mental coach revelou vários objectivos extravagantes do atleta, como ser o melhor marcador do Euro ou jogar no Barça. Talvez para impedir que numa próxima entrevista Susana revelasse que ele também queria ter asas cor-de-rosa e um cornicho, como os unicórnios, Eder veio desmentir a sua antiga coach.
Os oradores motivacionais têm por hábito mitificar as suas vidas, conferindo-lhes uma patine de grandiosidade que, convenhamos, a maioria das vidas não tem, mas Susana caiu no erro de mitificar a vida de outro. Ainda por cima, vivo. Mais valia ter apostado no tradicional “antes de morrer, o meu avozinho disse-me…”. Cristina Ferreira, recém-chegada ao mundo da oração motivacional, foi mais inteligente: não há nenhuma hipótese de a Nossa Senhora de Fátima vir negar que esteve dentro dos seus sapatos. Quando falamos em Eder e Susana não falamos de um desentendimento entre dois ex. É, mais do que isso, uma cisão entre os que fazem e acontecem e os que dizem “fazer acontecer”. Susana é apenas a face visível de centenas, milhares de coaches que nascem todos os dias, seja em formações numas obscuras salas de hotéis ou em eventos cheios de luz e cor, no Altice Arena. Coaches que dão coaching a outros coaches, para que estes possam depois dar coaching e formar novos coaches. São uma praga equivalente àquela das traças no Stade de France. E se em 2016 todos gritámos “Eder, chuta à baliza!” (quem é que quero enganar? Eu gritava “passa a bola!”), agora ficamos aliviados por ter chutado para canto a mental coach. É uma sensação semelhante à de vencer os franceses. Eles sentiam-se superiores a nós. Os coaches também. Eles sabem coisas que ainda não sabemos. Mas como são muito generosos, vão partilhá-las connosco e ensinar-nos a ser como eles, a troco de uns milhares de euros, SE LIGAR JÁ PARA ESTE NÚMERO! OPORTUNIDADE ÚNICA! NÃO PERCA! MUDE A SUA VIDA AGORA!
Mente a mental coach? Crónica de Joana Marques

Cristina Ferreira, recém-chegada ao mundo da oração motivacional, foi mais inteligente: não há nenhuma hipótese de a Nossa Senhora de Fátima vir negar que esteve dentro dos seus sapatos
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