Está a viver aquilo que vulgarmente se designa de “relação de fachada” ou de “faz de conta”? Então este artigo talvez lhe interesse, pois irei falar-lhe sobre os 7 principais medos que o fazem permanecer nesse tipo de relação.
E eles são:
1. O medo do conflito e da “guerra”
Muitas pessoas confidenciaram-me ao longo dos anos de que se tivessem a certeza de que a separação seria consensual e pacífica teriam tomado a decisão de se divorciarem muito mais cedo.
A maioria das pessoas receia o conflito e evita-o a todo o custo, mesmo quando isso implica abrirem mão da sua própria felicidade. Mesmo não se sentindo amadas, respeitadas e valorizadas… mesmo não amando, continuam a temer o confronto e a acreditar que tudo e, especialmente o outro, vai mudar.
A crença de que devemos aceitar, agradar, “comer e calar”, mesmo aquilo que nos dá voltas ao estômago, faz-nos sentir dores de barriga e esquecermo-nos de quem somos e para onde vamos, faz com que milhões de pessoas permaneçam dia após dia numa espécie de “exilio emocional e afetivo”, com medo de expressar o que pensam e especialmente o que sentem, em prol de um bem que julgam maior: manter a paz! Mas será que pode existir paz interior, onde não existe “lugar” e abertura para a expressão de emoções e necessidades sem medo de que o “teto venha abaixo”?
Será que pode existir Amor onde existe medo? Não creio de todo! O medo é o oposto do Amor. O medo é castrador. O Amor é libertador. Não se pode amar com medo de falar o que vai na alma, temendo as consequências. Isso não é Amor é uma “prisão emocional e afetiva”. Ninguém o prendeu! A chave para abrir essa “prisão” está em tomar consciência que é você, só você, que na sua mente antecipa um futuro catastrófico e age de acordo com essas mesmas “imagens”. Muito pouca coisa acontece como o imaginámos. Muito pior do que qualquer disputa é guardar e cristalizar mágoas e ressentimentos dentro de si e somatizá-los em dores.
Não tenha medo do conflito! Muitas vezes através da coragem de vencer o medo do conflito e o medo da zanga do outro, conhecemos o quanto nos amamos e até onde somos capazes de ir para defender aquilo que acreditamos ser o melhor para nós.
2. Medo de ficar sozinho e de não encontrar o Amor
Ainda ontem alguém me dizia: “esta pessoa faz-me mal, mas ama-me tanto!” Está espantado com a afirmação? A pergunta é: então, ama-a, ou faz-lhe mal? Porque as duas coisas não são compatíveis, verdade?
Quem o ama de verdade, não o faz sentir repetidamente mal. Fá-lo sentir-se bem e ainda MAIOR!
Se essa pessoa o faz sentir menos bem, é muito provável que isso seja um dos maiores sinais para se afastar dela. Não o ignore. Muitas vezes o receio da solidão, de ficar só e de não encontrar novamente o Amor, faz com que nos mantenhamos “presos” a “mentiras” que inventamos no sentido de evitar um sofrimento maior. Pensar que o outro o ama, vai esvaziar de sentido abandoná-lo, pois implica perder o seu amor. Muitas pessoas agarram-se a esta crença para não enfrentar os seus maiores medos, como seja o de nunca mais conseguir encontrar alguém que o ame. Trata-se apenas de um mecanismo de defesa. Se lhes assegurassem que iriam encontrar esse amor, muitas delas não hesitariam em “saltar para fora do barco em vias de naufrágio”.
O medo de ficar sozinho também “faz das suas” e muitas pessoas que vivem relações completamente destruturadas e caóticas, algumas de violência psicológica e física, mantêm-se nelas, visualizando a separação como um infinito “deserto” de desamparo, dor e sofrimento. Mais uma vez, são as suas crenças que as auto sabotam.
Você é a sua melhor companhia, sabia? Se o descobrir, outros vão descobri-lo também e estar sozinho deixa de ser um medo e passa a ser uma bênção.
3. Medo de não ser suficiente!
Muitas pessoas sentem medo de não ser suficientes. Dito de outra forma: muitas pessoas sentem-se insuficientes e pensam não ter capacidades e recursos para tomar uma decisão de separação e arcar com a “avalanche” que imaginam que virá. Assim, conformam-se todos os dias mais um bocadinho, pensam que isso do amor não existe e que os homens/mulheres são todos iguais, entre muitas outras coisas.
Você é EXTRAORDINÁRIO e tem recursos emocionais e psicológicos incríveis. Questionar a relação não é um perigo, é uma atitude inteligente.
Você está aqui em cima desta bola para se descobrir e descobrir o quão forte e corajoso é. A decisão de viver com medo e de não acreditar em si é só sua. A de viver com coragem e de confiar em si, também.
Saia um pouco para fora de si mesmo. Tente ver sob outras perspetivas: essa pessoa que está ao seu lado até pode estar a ajudá-lo a descobrir-se e a “espicaçar” a sua capacidade de autodeterminação e de definir o que quer para si e para onde vai. A pôr à prova o seu Amor próprio, a sua autoestima e autoconfiança. A “ajudá-lo” a descobrir quem é, o que aceita e não aceita.
Fuja da dependência emocional e pare de ouvir músicas com letras como “não vivo sem ti!”…
Pergunte-se: Porque penso que não sou suficiente? Porque aceito viver uma “relação de fachada” quando posso viver uma relação de Amor? É isso que considero ser o melhor para mim?
Você é muito mais do que pensa…desafie-se a descobri-lo!
4. Medo do que os outros pensam e digam
Algumas, senão muitas pessoas, temem tomar a decisão de “deitar a fachada abaixo” porque imaginam que os outros, especialmente as respetivas famílias e amigos os podem vir a censurar. Mas não só. Temem igualmente que essas mesmas ligações sejam afetadas e terminem.
A opinião dos outros, sobre decisões estritamente pessoais deve ser tida em consideração apenas em casos muito especiais e apenas como uma opinião. Não como a verdade absoluta.
“Das portas para dentro só sabe quem está lá dentro”. Especialmente em situações muito delicadas de maus-tratos psicológicos envolvendo indivíduos com sérios problemas mentais, é muito difícil as pessoas que estão à volta da vítima detetarem esses mesmos abusos, podendo o agressor ter uma imagem exterior imaculada. Narcisistas e psicopatas têm “duas caras”.
A decisão de separação é uma decisão pessoal e a família e amigos devem ter bem presente de que a sua “missão” é a de apoiar e não culpabilizar ou tomar decisões por si. Esclareça-os!
5. Medo de tomar a decisão errada e de não ter feito tudo
Todas as pessoas que se separam sentem estes dois medos. Lado positivo: são demonstrativos de responsabilidade.
Lado negativo: podem induzir uma culpa crónica que pode manifestar-se ao longo de mais ou menos tempo.
A minha convicção é que são muito poucas as pessoas que vivem relações mais ou menos longas e que se separam levianamente, só porque de repente se lembraram disso. A maioria das pessoas experiência um processo de grande ambivalência antes da tomada da decisão e fazem tudo, dentro das suas possibilidades, conhecimento e dificuldades, para que a relação resulte. Até irem trabalhar para fora ou viverem no mais sofredor silêncio, pensando que estão a fazer o melhor.
A insegurança por detrás de cada um destes medos que estão correlacionados, pode em algumas situações impedir a própria tomada de decisão e a sua superação. Se é o caso, se sente medo ou culpa excessivos, peça a um psicólogo que o ajude a compreender a sua origem.
6. Medo do desconhecido
Este é um dos maiores medos que mantém a “fachada” e fazem relações destrutivas perdurar.
Todos temos medo do que não conhecemos. Somos seres humanos de “hábitos” e a nossa mente adora o conhecido, confortável e rotineiro pois dá-nos uma sensação conforto, ainda que algumas vezes, um conforto desconfortável. Porquê? Porque a nossa mente também é curiosa e rege-se pelo prazer e fuga à dor e sofrimento. Por isso ficamos tão confusos e sentimos muita dificuldade em deitar a “fachada” abaixo.
Mas, se você parar para pensar um pouco, e se interrogar sobre esse desconhecido que o assusta tanto, vai chegar à conclusão de que toda a sua vida foi vivida no desconhecido. Todos os dias são desconhecido, verdade? Por isso se irrita tanto por vezes… então, faz sentido sentir tanto medo do desconhecido? O mais importante é confiar que tem os recursos necessários para enfrentar e superar esse desconhecido.
7. Medo das marcas deixadas nas crianças
É um dos maiores receios dos pais conscientes e, com razão.
Mas pergunto: e as marcas de um modelo de relação completamente disfuncional em que não existe afeto, respeito, comunicação, confiança, partilha… ou pior, em que existe uma frieza e indiferença tão indescritíveis quanto chocantes?
E quando são as próprias crianças a pedir para se separarem para conseguirem ter paz?
A cada segundo há pais que se divorciam no mundo inteiro. A forma como essas crianças vão viver e superar essa etapa difícil depende principalmente de como os pais a experienciam e o quão atentos, presentes e disponíveis estão para os seus filhos.
Os filhos precisam de pais que lhes deem a conhecer o que significa a palavra AMOR e o que é uma relação de verdadeiro Amor. Precisam de pais felizes, não de pais sofredores que os arrastam para os seus conflitos e os façam tomar partido, na tentativa de manter vivas relações que há muito deixaram de existir.
Uma criança com tempo e Amor compreende que a mãe e o pai decidiram que serão mais felizes morando em casas diferentes. Não compreende porque se fazem e tratam mal.
Não se esqueça: o medo existe para nos proteger não para sabotar a nossa felicidade!
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.