Estamos ainda num período pandémico, embora todos desejem que seja a fase final para voltarmos à nova normalidade num mundo que não ficou indiferente a esta experiência e que por isso, não será o mesmo.
Muito se tem falado e escrito, e possivelmente se vai continuar a falar e escrever sobre as tendências que estão para ficar, das mudanças que vão acontecer e dos impactos daí resultantes.
Apesar de estar entre os sectores mais resilientes, o setor imobiliário tem levado muito a sério esta reflexão sobre a nova realidade ao nível estratégico e operacional, em específico o da mediação imobiliária, que de certa maneira conseguiu reagir de forma ágil, rápida e com resultados bastante positivos num negócio que se carateriza essencialmente por comportamentos associados a necessidades e desejos imediatos com impactos de longo prazo e pelo contacto pessoal entre pessoas.
Inspirado pelo meu compatriota italiano, Rudy Bandeira, que fez menção a um artigo do jornal Economist do Callum Williams, e após várias análises de períodos idênticos na história, como por exemplo o período da gripe espanhola, advinha-se um período de boom económico.
Por isso, verdadeiros líderes que planeiam, três tendências que destaco, que estão para ficar e que transporto para a realidade imobiliária para definição de estratégias futuras para quem compra, vende imóveis ou para quem ajuda a fazê-lo:
- Sustentabilidade, ser uma pequena (grande) parte da solução. Não é por acaso que começa a ser comunicado um tema que há muito se debate no imobiliário internacional. A sustentabilidade e o seu impacto para o setor imobiliário desde o planeamento, promoção, construção e até mesmo à mediação imobiliária, possivelmente o vínculo crucial para criar uma ponte que faça chegar conceitos, benefícios, vantagens e principalmente feedback desta tendência necessária e cada vez mais iminente para gerações atuais e futuras com necessidades habitacionais que, não mudarão radicalmente (as pessoas vão continuar a querer ter uma casa, seja ela qual e de que forma for), mas que terão um grande impacto na forma como avaliam e valorizam determinadas características da casa que pretendem comprar.
- Novas regras. Este período tem estado repleto de protestos, (uns antigos outros novos) oriundos de situações não resolvidas, ou mesmo de situações que aconteceram e que não havia solução. No passado, quando se enfrentaram crises deste género, assistiu-se sempre a alterações políticas e administrativas que deram origem a novas leis e novas regras para o bem da evolução da prosperidade, sustentabilidade e desburocratização dos sectores. Será expetável (espero eu) que no ramo imobiliário aconteça o mesmo, e que a preocupação com direito à habitação se torne séria e cada vez mais uma prioridade. Espero também as tão necessárias alterações aos regulamentos de algumas atividades profissionais, como por exemplo, a mediação imobiliária, que para evoluir necessita de ganhar credibilidade, só desta forma se tornará atrativa para profissionais aptos para lidar com dados, necessidades, processos, expectativas e principalmente, pessoas.
- Solucionar velhos problemas com nova tecnologia. A pandemia ensinou-nos que já existiam muitas ferramentas para velhos problemas. Era a nossa acomodação que fazia com que essas ferramentas não fossem utilizadas e, por conseguinte, democratizadas. São notórios os avanços tecnológicos e a democratização de adoção que a pandemia trouxe ao sector imobiliário de ferramentas que já existiam e começaram a ser utilizadas, como plataformas de comunicação virtual e redes sociais para reuniões, formação, visitas a imóveis, prospeção, promoção e seguimento. O processo burocrático de documentação da transação imobiliária viu finalmente a oportunidade de kick off para a que será com certeza a grande mudança neste e noutros sectores. O blockchain e tokens que já existiam e resolviam um problema antigo, só agora estão a ser levados a sério como alternativa pois ganharam a credibilidade e a confiança com a entrada da virtualização no dia a dia das nossas vidas de hoje e não apenas para um futuro próximo.
- Gastar mais, mas melhor. Falando com muitas pessoas, notei uma vontade de maior investimento nestas férias, não só em qualidade, como tempo e diversão, possivelmente pelas restrições ainda muito patentes nas memórias do ano passado. Mas o mais importante e variante desta tendência, tem a ver com aquilo em que se vai gastar. O comportamento analisado após crises deste género, não é o de esbanjar, é sim o de investir ou gastar de uma forma mais atenta. Tende-se para uma aquisição mais consciente a nível holístico, uma tomada de decisão (ainda) emocional, onde a necessidade terá peso e a ostentação ou desejo, são remetidos para um plano de menor importância.
Mais do que a tendência de as pessoas comprarem mais na cidade, na periferia, no campo, apartamentos ou casas geminadas com ou sem piscina, estes são os pontos estruturais que estão para ficar e que deve ter em conta para desenvolver uma visão de negócio ou de futura transação. Como sempre, o mercado imobiliário irá comportar-se de forma lenta. No entanto, a mudança já começou e está para ficar!
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.