O Programa Nacional de Vacinação português é um óptimo exemplo de sucesso. Para além da ampla cobertura contra um número significativo de doenças (algumas das quais potencialmente muito graves), podemos orgulhar-nos de ter uma das melhores taxas de cobertura vacinal de todo o Mundo, o que coloca Portugal num lugar de destaque a nível internacional.
No entanto, para além das vacinas que compõem esse Programa, há ainda outras vacinas que podem ser adquiridas e administradas em determinadas situações. A Comissão de Vacinas da Sociedade Portuguesa de Pediatria emitiu em Janeiro deste ano um documento que visa reforçar algumas recomendações para essas vacinas, que vou tentar resumir de forma prática e objectiva neste texto.
No entanto, é importante reforçar a ideia de que qualquer decisão de administração de vacinas deve ser discutida com o respectivo Médico Assistente, de forma a perceber se não existe nenhuma contra-indicação para o efeito.
Vacina contra o meningococo do tipo B
(Bexsero®, Trumenba®)
O meningococo é uma bactéria que pode existir transitoriamente nos narizes de pessoas saudáveis e, daí, propagar-se a outros indivíduos. Os principais “reservatórios” desta bactéria são os adolescentes e os adultos jovens. Tem uma capacidade grande de invadir as nossas células e pode originar infecções muito graves, como sépsis (infecção generalizada do organismo) ou meningite, por exemplo.
Existem 13 grupos diferentes, mas os mais frequentemente causadores de doença são o A, B, C, W, X e Y.
Em Portugal, a maior parte das situações são provocadas pelo meningococo do grupo B. Relativamente à vacinação contra este microorganismo, as recomendações da Sociedade Portuguesa de Pediatria são as seguintes:
1. Todas as crianças dos dois meses aos dois anos devem, idealmente, ser vacinadas com Bexsero®
2. As crianças com idades entre os dois anos e os 10 anos devem, se possível, ser vacinadas com Bexsero®
3. A partir dos 10 anos os adolescentes devem também ser vacinados com Bexsero® ou Trumenba®
Vacinas contra os meningococos A, C, W e Y
(Nimenrix®, Menveo®)
Com a introdução da vacina contra o meningococo do grupo C no Programa Nacional de Vacinação em 2006, a taxa de infecção por esta bactéria reduziu drasticamente, estando praticamente ausente nos últimos anos em Portugal.
O meningococo do grupo W tem aumentado bastante a sua frequência na América Latina e também na Europa, particularmente no Reino Unido. Também os casos de infecção pelo meningococo do grupo Y têm aumentado nos últimos anos no nosso continente.
Assim, a Sociedade Portuguesa de Pediatria recomenda a vacinação contra os meningococos do grupo A, C, W e Y a:
- Todas as crianças com alterações da imunidade que aumentem o risco de infecção por estas bactérias
- Viajantes com estadias prolongadas ou residentes em países onde esta doença é muito prevalente e sempre que exigido pela autoridade local
- Às crianças e adolescente saudáveis, se possível
Vacina contra o papilomavírus humano no sexo masculino
(Gardasil 9®)
O HPV é um vírus que infecta algumas células do nosso organismo e que tem capacidade de provocar dois grandes tipos de lesões:
– malignas – é o segundo agente carcinogénico mais frequente, logo a seguir ao tabaco, responsável por diferentes tipos de cancro (cabeça e pescoço, colo do útero, pénis, vagina e ânus, entre outros)
– benignas – é responsável pelos condilomas (as chamadas “verrugas”), que podem existir na pele e na região genital
A vacinação contra o papilomavírus humano (HPV) está incluída no Programa Nacional de Vacinação para todas as adolescentes do sexo feminino, mas não para o sexo masculino.
Por esse motivo, a Sociedade Portuguesa de Pediatria recomenda que:
- Sejam vacinados os adolescentes do género masculino como forma de prevenir as lesões associadas ao HPV.
Vacina contra o rotavírus
(Rotateq®, Rotarix®)
A gastroenterite aguda é uma infecção extremamente comum nos primeiros anos de vida, responsável por uma percentagem significativa dos internamentos nessa faixa etária. Pode ser provocada por vírus ou bactérias, mas o rotavírus é o agente mais frequentemente implicado.
Apesar da gastroenterite ser, geralmente, uma infecção com uma baixa taxa de complicações, o impacto na qualidade de vida das crianças e famílias é bastante significativo.
A vacina para o rotavírus tem que ser administrada nos primeiros meses de vida, sendo que as idade-limite variam um pouco entre cada uma das vacinas.
Por esse motivo, a Sociedade Portuguesa de Pediatria recomenda que sejam vacinadas:
1. Todas as crianças saudáveis, reforçando a importância do cumprimento das indicações quanto à idade de vacinação.
Vacina contra a Varicela
(Varilrix®, Varivax®)
A varicela é uma infecção extremamente comum em crianças . Apesar de poder acarretar algumas complicações, a sua taxa é baixa na infância. No entanto, as complicações são mais frequentes quando a varicela surge em adolescentes, adultos jovens ou grávidas, pelo que se trata de uma situação a evitar nestes grupos.
Em 2014 a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu um documento no qual recomenda que a vacinação contra esta doença seja efectuada apenas nos casos em que se consiga obter uma cobertura vacinal superior ou igual a 80% da população, ou seja, se for incluída no Programa Nacional de Vacinação. Se a cobertura vacinal for inferior corre-se o risco de provocar um desvio dos casos de varicela para idades mais velhas, onde a taxa de complicações é maior, o que é evitável.
Assim, a Sociedade Portuguesa de Pediatria recomenda que:
1. Sejam seguidas as orientações da OMS, não recomendando a vacinação de crianças saudáveis fora de um programa nacional de vacinação
2. Sejam vacinados os adolescentes sem história prévia de varicela, porque são mais suscetíveis a doença grave e porque a vacinação deste grupo não acarretará o risco de modificação da doença para idades mais velhas (nas adolescentes do sexo feminino deve ser sempre excluída possibilidade de gravidez)
3. A vacina seja administrada a crianças que contactam habitualmente com doentes imunodeprimidos
Vacina contra a Hepatite A
(Havrix®, VAQTA®)
A hepatite A é uma infecção vírica do fígado. Até aos anos 80 era extremamente frequente, mas com a melhoria das condições socioeconómicas e sanitárias do nosso país a sua frequência reduziu-se drasticamente desde então.
Actualmente é uma infecção pouco frequente, embora tenha um potencial de contágio bastante significativo.
As recomendações da Sociedade Portuguesa de Pediatria indicam que esta vacina deve ser administrada a:
- Candidatos a transplante hepático
- Hemofílicos
- Viajantes para países onde esta infecção é frequente
- Crianças ou adolescentes com doença hepática crónica
- Crianças ou adolescentes com infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH)
- Crianças ou adolescentes com contacto próximo com doente com hepatite A
- Adolescentes com comportamentos sexuais de risco para transmissão deste vírus, em particular no contexto de surtos
Conclusões
Estas recomendações são normas orientadoras que faz sentido conhecer. Como é lógico, a última opção é sempre dos pais, mas é fundamental que as pessoas tenham conhecimento sobre este assunto. Qualquer informação adicional sobre cada vacina ou sobre a doença que protege pode e deve ser discutida com o Médico Assistente, de forma a ponderar sempre a melhor estratégia a adoptar.