Sempre que são divulgados os rankings de produtividade Portugal aparece em destaque, mas pela negativa. Sendo uma questão recorrente, urge perguntar por que razão não conseguimos inverter a situação? Seremos verdadeiramente menos capazes de produzir?
A resposta não é, nem poderia ser, simplista pois são vários os factores que influenciam a produtividade e, como tal, devem ser analisados.
O gráfico que a seguir se apresenta, do ano de 2015, indica, uma vez mais, que os portugueses geraram menos riqueza que a maioria dos países da União Europeia.
Contudo, não deixa de ser interessante verificar que é o Luxemburgo quem lidera o ranking, país onde mais de 20% da força de trabalho é… portuguesa…

Fontes/Entidades: Eurostat | Institutos Nacionais de Estatística, PORDATA
Como definir Produtividade?
Produtividade não é sinónimo de estar ocupado… Para atingir um elevado nível de produtividade é essencial ser capaz de gerir o tempo, a atenção (ter foco), bem como a energia despendida. Para ser verdadeiramente produtivo é necessário conciliar estas 3 variáveis.
Ser produtivo é entregar o máximo, no menor tempo possível, consumindo o menor número de recursos (humanos, materiais e tecnológicos).
Os indicadores de avaliação podem mudar, mas a produtividade será sempre medida tendo em conta o resultado atingido. Ao mesmo tempo, terá de se garantir objectividade na medição desse mesmo resultado, para tal, deve este ser definido a priori, preferencialmente, aquando da elaboração de um projecto ou na planificação do seu dia de trabalho.
Reconhecimento internacional
São vários os exemplos de portugueses líderes mundiais de empresas e organizações globais. Existe ainda um elevadíssimo número de quadros directivos a nível internacional que evoluíram de multinacionais em Portugal, para lugares de topo dessas mesmas empresas.
Genericamente, o português tem características que lhe permite ter sucesso em países mais competitivos, tecnologicamente mais evoluídos e com níveis de produtividade superiores. A capacidade de resolver problemas complexos, a par de um pensamento analítico, criativo e menos formatado é uma vantagem competitiva que tem gerado vários líderes internacionais.
Portugal é, por isso, reconhecido como um pais com elevada qualidade dos seus recursos humanos, o que tem levado empresas a fixarem-se em Portugal, mas tem provocado, sobretudo, um elevado número de recrutamentos em países como UK, Alemanha, França ou Países Nórdicos.
Por que razão, em Portugal, a produtividade é mais baixa?
Quando temos portugueses a trabalhar só com portugueses, e em Portugal, surge a questão de determinadas competências – como organização, disciplina, liderança – não estarem desenvolvidas ao ponto de permitirem elevar o nível de produtividade. Junta-se ainda o facto de em muitas áreas não termos a tecnologia que permitira produzir mais.
Em funções mais operacionais, sobretudo industriais, em que a produtividade é, acima de tudo, o resultado de um acto contínuo e repetitivo, a tecnologia ajuda rapidamente a melhorar este rácio.
No sector dos serviços, que engloba cerca de dois terços dos trabalhadores em Portugal, falta organização, disciplina, foco, planeamento. A tecnologia também pode ajudar, mas de uma forma mais marginal do que em outros sectores de actividade.
O dia-a-dia típico de um português urbano…
O dia começa, quase sempre, com o problema do trânsito… Mas a verdade é que o trânsito existe quase todos os dias e para quase todos, logo quando os atrasos em reuniões são legitimados pelo trânsito, como se justifica que os restantes membros da reunião tenham chegado à hora marcada?…
Se esta mesma reunião sofreu um atraso de 15m e estiverem implicados na mesma 4 pessoas, significa que se perdeu 1h efectiva de produtividade. Por vezes a consequência é ainda mais nefasta, pois devido à “reunite aguda” que afecta muitas organizações o atraso na primeira reunião tem repercussões nas seguintes e em todas as pessoas envolvidas. A acrescer a isto, muitas destas reuniões não têm uma agenda definida, não têm tempo limite e não terminam com “próximos passos” ou planograma e acções.
Chegados à hora de almoço, as pessoas reúnem-se e almoçam em conjunto. O almoço é vivenciado como um verdadeiro evento social pelos portugueses. Adoram sentar-se à mesa, comer e conversar, sobretudo sobre restaurantes e especialidades gastronómicas. Este ritual, em alguns dias, pode prolongar-se por mais de 2h.
A tarde prossegue com algumas reuniões e chegados às 17h/18h (hora de saída) é que há disponibilidade para tratar dos eventuais temas urgentes para esse dia de trabalho.
Apesar da caricatura, estas não deixam de ser algumas das eventuais razões que ajudarão a justificar a menor produtividade dos portugueses face a outros povos Europeus.
Contribui igualmente para este estado de coisas, o desconhecimento dos objectivos da sua função, quando estes não são transmitidos pela hierarquia. Esta situação, para além de provocar desresponsabilização, também leva a níveis de desmotivação elevados, pois as pessoas não se sentem comprometidas com os objectivos da organização.
Regressando ao Luxemburgo, o que caracteriza esta economia é exactamente ser mais equilibrada na distribuição de riqueza, ter trabalhadores (muitos portugueses) que valorizam o planeamento e controlo, o que diminui o grau de dispersão e imprevisibilidade do trabalho, obrigando ao foco necessário para se produzir em qualidade e quantidade.
Como elevar os níveis de produtividade
A maior motivação que pode ter para aumentar o seu nível de produtividade é poder ter mais tempo para si. Atingir objectivos de forma mais célere também induzirá ao reconhecimento, à promoção e, tal como expresso anteriormente, deixará, com certeza, mais tempo livre para o lazer.
Ficam, em seguida, alguns conselhos que poderão ajudar a aumentar a produtividade:
– Assumir responsabilidade e controlo sobre as suas tarefas;
– Ter sentido de urgência. Não procrastine! Faça hoje e não deixe para amanhã;
– Delegar, explicando claramente objectivos e definindo planograma para apresentação de resultados;
– Planear o seu dia antecipadamente e definir, por exemplo, 3 coisas que têm de estar concluídas no final desse mesmo dia;
– Organizar a sua secretária, PC, etc: Num estudo efectuado nos EUA, verificou-se que cerca de 66% dos trabalhadores perdem diariamente 30 minutos à procura de algo: um ficheiro no PC, uma pasta, as chaves da gaveta ou do carro;
– Reduzir as interrupções: Se necessário desligar o telemóvel, wi-fi e outros canais que não facilitem a concentração, sobretudo quando está a trabalhar em algum tema importante. As constantes interrupções podem, em média, ocupar 2h do dia. Já o tempo de “navegação” online em temas pessoais pode ocupar-lhe mais de 1h.
– Não ser multi-task, o foco ajuda a completar rapidamente as tarefas.
– Gerir a energia ao longo do dia. “Ouvir” o corpo e evitar grandes níveis de adrenalina e stress pois isso consome demasiada a energia.
O contexto económico, cultural e tecnológico tem um papel importante no nível de produtividade que se consegue atingir, mas a verdade é que é possível agir em relação a alguns temas e, nesse sentido, melhorar a produtividade do dia de trabalho, com claro benefício para o próprio, bem como para as pessoas que o rodeiam.
Vamos lá ser produtivos! Bom trabalho!
* (O autor escreveu este texto com base na ortografia antiga)