Com a portuguesíssima tradição da “Black Friday” e o início de Dezembro, entramos em plena época do consumo e da “caça” ao comprador ainda que as previsões das consultoras sugiram a intenção de muitos de nós sermos mais económicos nas compras. Como também sabemos, a época de Natal transforma os mais novos nos destinatários privilegiados de todas as campanhas.
Na verdade, a publicidade que já vai aparecendo nos ecrãs e em outros suportes direcciona-se em força para crianças e adolescentes estimulando o consumo e traduzindo-se em múltiplos pedidos a que os pais dificilmente resistem.
Seria ingénuo pensar que quem produz e promove produtos para crianças ou adolescentes e quem gere mensagens publicitárias assuma uma preocupação com o equilíbrio entre o natural interesse das crianças e jovens pelos presentes e a natural vontade dos pais de proporcionar prendas aos filhos. Este equilíbrio é ainda mais difícil numa época, o Natal, que está transformada num centro comercial decorado a vermelho e com barbas e num tempo em que cada vez mais “só se é o que se tem” e “ter mais é ser mais”. Aliás, como também é habitual, os presentes atribuem-se ainda como prémios ou incentivos ao trabalho escolar e ao comportamento.
Sabendo que não é fácil acredito que podemos fazer alguma coisa junto dos pais e dos mais novos para tentar atenuar os efeitos deste cenário.
As escolas poderiam ter um trabalho interessante debatendo com crianças e adolescentes, de todas as idades e de forma adequada, o papel da publicidade nas escolhas e nos gostos deles promovendo uma atitude mais consciente e crítica destes processos. Para isso, é verdade, teriam de ter um tempo que dificilmente cabe no cumprimento das centenas de metas curriculares estabelecidas por um programa extenso, prescritivo e normativo e um trabalho dos docentes que não fosse pressionado pela burocracia e pelos resultados.
No entanto, também sabemos que muitas crianças e adolescentes estão imenso tempo nas escolas e não seria impossível que algumas iniciativas neste âmbito pudessem ser realizadas. Tenho tido conhecimento de algumas bem interessantes.
Poderia também ser interessante conversar com os pais sobre o papel dos “presentes” nas relações familiares, isto é, mais prendas não é igual a gostar mais, tal como não deve ser, por vezes sem nos darmos conta, um modo de aquietar a sua própria consciência por uma menor atenção ou disponibilidade para com os filhos.
Por outro lado, conforme o que acontece com outras situações, birras por exemplo, também os pais podem ter alguma ajuda relativamente à gestão da pressão criada pelos filhos decorrente da publicidade e apelo ao consumo mas também na promoção de valores e equilíbrio nos comportamentos de consumidor.
Pode não ser claro, mas a minha ideia não é estragar o Natal, é ter um Natal por medida em vez de um Natal pronto a consumir.
Finalmente e numa pequena nota, apesar da importância óbvia que os presentes assumem, em particular nesta altura, continuo convencido que a questão essencial não tem a ver com os presentes que temos, podemos ou queremos dar a crianças e adolescentes, mas com os FUTUROS que preparamos para lhes oferecer e para construírem, esses sim, verdadeiramente importantes.
Bom Natal.
(Texto escrito de acordo com a antiga ortografia)