É um facto que o (a) fotógrafo(a) é mais importante do que a câmara fotográfica, pois esta última não avalia a melhor luz, não pensa sobre a composição, não sente emoção perante um momento único e, acima de tudo, não age com um propósito. Todavia, não é menos verdade quem sem uma câmara fotográfica, assim como as objetivas que a podem acompanhar, é impossível registar um fotograma, transformando a luz numa mensagem visual irrepetível.
Neste sentido, importa pensar em que tipo de câmara ou objetiva podemos investir, particularmente com a proximidade do Natal, época profícua em momentos que queremos guardar para a posteridade e, sobretudo, em aturadas decisões financeiras. Ainda assim, note-se que a pergunta “Qual a câmara que devo comprar?” é tão intricada de responder como a questão “Qual o carro que devo comprar?”, não havendo uma solução simples que sirva a cada um de nós, visto que muito dependerá do orçamento disponível, dos objetivos que se têm em mente e, claro, dos gostos pessoais.
Não obstante a subjetividade deste tema, existem considerações que merecem atenção antes de investir no seu novo equipamento fotográfico.
PASSO 1 — Câmara compacta ou de objetivas intermutáveis?
Seja qual for a câmara que se venha a escolher, existe um pensamento apaziguador: hoje em dia, praticamente não existem câmaras más. Assim, pesando as necessidades sentidas, o mais relevante é adequar a nossa escolha a alguns pré-requisitos essenciais, entre eles os seguintes:
a) Peso/Portabilidade
b) Discrição
c) Controlo criativo
d) Robustez e Ergonomia
e) Velocidade de operação
f) Qualidade de imagem
Considerando as devidas exceções, as câmaras compactas são particularmente fortes nos aspectos a) e b), pelo que se tornam interessantes para pessoas que apenas querem ter sempre consigo uma câmara, com uma qualidade de imagem, versatilidade e desempenho superiores aos oferecidos pela câmara integrada num smartphone. Fazer fotografia de rua ou subir uma montanha é mais fácil com uma câmara fotográfica que cabe num bolso do que com uma mochila recheada de objetivas e acessórios fotográficos.
Já as câmaras fotográficas de objetivas intermutáveis — ou seja, aquelas em que se pode tirar partido de mais do que uma objetiva no mesmo corpo — são especialmente fortes nos aspectos c) [mais objetivas disponíveis é apenas um dos motivos], d) [existem modelos selados e/ou que se adaptam melhor à nossa mão], e) [interface externa/interna mais bem concebida e personalizável] e f) [sensor de imagem de maior dimensão]. Dentro deste género de câmaras, existem as reflex (com espelho e ocular óptica) e as de sistema compacto (sem espelhos e sem ocular óptica), sendo que estas últimas apresentam algumas vantagens nos aspectos a) e b), sacrificando outros como d) e e).
Resta dizer que os diferentes tipos de câmara fotográfica não são mutuamente exclusivos, tal como um carro citadino não é substituto perfeito de um veículo todo-o-terreno. O importante é adequar as escolhas às reais necessidades fotográficas e disponibilidade financeira.
PASSO 2 — Objetiva zoom ou fixa?
Comprar uma “boa” objetiva raramente será um mau investimento. Enquanto um novo modelo de câmara surge a cada seis meses, por vezes tornando obsoletos os anteriores, uma objetiva mantém a sua utilidade e interesse durante anos, além de que é a primeira responsável pela qualidade de imagem, controlo criativo e desempenho de todo o conjunto fotográfico.
Tal como nas câmaras, a escolha das objetivas devem considerar alguns aspectos fundamentais:
a) versatilidade
b) qualidade ótica
c) luminosidade
d) controlo criativo
e) desempenho do autofoco
f) estabilização de imagem
g) peso
h) robustez/selagem
As objetivas zoom dominam por completo no que diz respeito ao aspeto a), pois cobrem mais do que uma distância focal. Adicionalmente, como reduzem a necessidade de trocar de objetivas com tanta frequência, reduzem o stress no momento de fotografar e cobrem uma maior diversidade de situações fotográficas. Dependendo do modelo, também podem ser excecionais nos aspetos e) e f).
No caso das objetivas de distância focal fixa, o ângulo de visão é sempre o mesmo, obrigando o fotógrafo a ser móvel e a encontrar soluções dentro dessa limitação auto imposta, algo que, tipicamente, contribui para um bom crescimento da técnica fotográfica uma vez ultrapassadas as frustrações iniciais. Estas objetivas são, genericamente, muito fortes nos aspetos b) (menos elementos óticos criam menos problemas óticos, como as distorções, perdas de contraste, entre outros fatores), c) (aberturas de entre f/1.2 e f/2.8 são frequentes, tornando estas objetivas ideais para situações fraca luz disponível), d) (as aberturas amplas permitem uma profundidade de campo extremamente reduzida, ajudando a separar o motivo do plano de fundo) e g) (novamente, menos elementos óticos ajudam a reduzir o peso, embora não seja uma regra universal).
Alguns modelos de objetivas zoom ou fixas são igualmente fortes nos aspetos e) (os motores de auto foco ultrassónicos são os mais rápidos e silenciosos), h) (uma objetiva selada em conjunto com um corpo de câmara selado ajuda a enfrentar condições adversas) e f) (os sistemas de estabilização de imagem degradam a qualidade ótica, mas ajudam imensamente a evitar imagens tremidas).
PASSO 3 — Comprar tudo de uma só vez ou adquirir progressivamente?
É fácil cair na tentação de querer comprar todo o equipamento com que sonhamos de uma só vez, pois existe a crença de que, assim, nunca se perderá uma oportunidade fotográfica. No entanto, a prática nem sempre corrobora esta teoria.
De facto, tenha em consideração que uma mochila cheia de equipamento torna-se pesada ao longo do dia e, em última análise, pode contribuir para uma fadiga que retira qualquer ímpeto de começar a fotografar quando um momento único finalmente surge. Adicionalmente, existe uma enorme vantagem em, faseadamente, descobrir, conhecer e dominar cada tipo de objetiva — olho-de-peixe, grande–angular, teleobjetiva, macro, entre outras —, não só treinando o seu olhar dentro das limitações e vantagens oferecidas por cada uma delas, como também explorando os motivos de uma forma diferenciada e original.
Por fim, como derradeiro argumento, de que vale investir tudo no equipamento e, depois, ficar a olhar para ele por não ter orçamento suficiente para sair e usá-lo, seja perto de sua casa ou no outro lado do planeta.
PASSO 4 — Equipamento novo ou em segunda mão?
Tal como já ficou implícito, a escolha do equipamento prende-se mais com a flexibilidade do nosso orçamento do que com a dimensão das nossas necessidades. Neste contexto, adquirir equipamento em segunda mão torna-se uma opção desejável, já que, em teoria, pode ajudar a poupar dinheiro.
É preciso considerar que, por muito robusto que algum equipamento fotográfico seja, mesmo o pertencente às gamas “profissionais”, ele não é impenetrável ou indestrutível. Logo, se tencionar obter equipamento em segunda mão, procure adquiri-lo em lojas ou a individuos que lhe deem alguma garantia, ficando atento a sinais de corrosão, de impacto ou de desgaste excessivo. Recorde-se que uma objetiva que caiu ou sofreu uma pancada forte poderá estar danificada por dentro, sem apresentar qualquer sinal exterior. Por essa razão, poderá ser importante, antes de selar o negócio, pedir para verificar a objetiva numa loja especializada ou centro de assistência técnica certificado da marca, pois as reparações podem atingir valores próximos dos preços de venda e, assim, anular qualquer poupança face a um equipamento novo e com garantia.
Comprar e vender em segunda mão é uma hipótese a considerar, mas é preciso ter em mente que, não raras as vezes, o barato pode sair caro.
Como se pode calcular, estas quatro considerações são apenas a ponta do iceberg quando chega o momento de escolher o equipamento que o irá acompanhar nas suas aventuras fotográficas. Ainda assim, é um ponto de partida para o selecionar da forma mais eficiente possível e adequada às suas reais necessidades, as quais estarão em permanente evolução, tal como o seu olhar.
Boas fotos, bom Natal!