Há pessoas que não têm férias. Ou porque estão sempre a trabalhar ou porque não trabalham (reformados e outros inactivos). No entanto, a maioria das pessoas tem férias, mesmo que não saia de casa. Comecei então a pensar como podem ser as férias de cada um, ou seja, que tipos diversos podem elas ter. E imaginei uma categorização que a seguir descrevo.
Imaginemos dois eixos, um vertical e outro horizontal.
No horizontal, consideremos uma graduação de exterioridade, quer dizer, de oposição entre uma preocupação de satisfação interna e pessoal e uma preocupação de satisfação externa e social. Assim, à esquerda, estariam as férias em que nos dedicamos a tarefas que só a nós dizem respeito e das quais só nós temos conhecimento, enquanto, à direita, estariam as férias que resultam em contacto com outras pessoas da nossa convivência: amigos, familiares, colegas de trabalho ou membros do nosso círculo de conhecimentos.
No eixo vertical, consideremos uma graduação de actividade, quer dizer, de oposição entre uma actividade reduzida – ou seja, uma quase passividade – e uma actividade intensa (por exemplo, levantar cedo para passear ou conhecer locais novos, fazer desportos, ir a excursões, deitar tarde em grandes festas, etc.). Assim, em baixo, estariam as férias em que nos dedicamos a não fazer nada, quando muito a estar deitado num sofá a ver televisão, enquanto, em cima, estariam as férias que resultam em actividade intensa.
Destes dois eixos, resulta um plano com quatro quadrantes, como o que a seguir se apresenta.
No quadrante 1, estão as actividades de perfil interior muito activo (por exemplo, escalar uma montanha sozinho).
No quadrante 2, estão as actividades de perfil exterior muito activo (por exemplo, andar em festas até às tantas da manhã).
No quadrante 3, estão as actividades de perfil interior pouco activo (por exemplo, não fazer nada, dormir ou ver televisão; quando muito, ler um livro ou ouvir música).
No quadrante 4, estão as actividades de perfil exterior pouco activo (por exemplo, passar o dia na praia a apanhar sol e a conversar com amigos – ou apenas apanhar sol para depois mostrar o “bronze” aos colegas…).
O desafio que agora deixo no ar é o seguinte: que cada um pense no tipo de férias que faz (ou nos tipos, pois podemos usar o tempo de férias mais do que de uma maneira) e no que mais gostaria de fazer, tendo em conta as suas possibilidades. Fazemos mesmo o que queremos ou deixamo-nos levar pela “ditadura do passado”, esse hábito terrível, que às vezes cultivamos, de fazer o que sempre fizemos? Preocupamo-nos em diversificar as nossas férias ou investimos numa só solução?
Faço este desafio porque acho que, muitas vezes, as férias são uma rotina também. Limitamo-nos, frequentemente, a substituir uma rotina por outra. Ou não?