O médico David Mendes tinha 70 anos quando, já reformado, viúvo e sem filhos, decidiu comprar um casarão em ruínas na Ilha de Moçambique. Durante as obras de restauração, os operários encontraram, numa das paredes do edifício, um pote de barro contendo meia dúzia de patacões, antigas moedas cunhadas em Goa. O achado entusiasmou o médico, que se interessou pela história da casa. Durante duas semanas, vasculhou velhos livros e documentos, no Arquivo Histórico de Moçambique, em Maputo, até dar com o primeiro proprietário da casa: um médico portuense, cristão-novo, degredado para a costa oriental de África, em meados do século XVI, por crime de criptojudaísmo. O nome do médico? David Mendes.
David Mendes contou-me tudo isto entre duas cervejas, enquanto víamos o céu incendiar-se e logo escurecer, no amplo terraço de um café chamado Rickchaws, na Ilha de Moçambique. Estranhei a coincidência do nome e da profissão.