Na margem direita do rio Douro, um pouco adiante do sítio onde, em tempos idos, funcionaram os estaleiros da Ribeira do Ouro, junto ao atual largo de António Cálem, a meio de uma pequena elevação, envolvida pela ramaria verde do arvoredo que a circunda, ergue-se, com seu alpendre, uma singela mas elegante capela da invocação de Nossa Senhora e do Senhor da Ajuda, a que andam ligadas duas ingénuas mas curiosas lendas.
Diz a primeira lenda que uma tal Catarina Fernandes, mulher de um embarcadiço de Miragaia, tivera um sonho durante o qual lhe aparecera Nossa Senhora a ordenar-lhe que fosse junto a uma fonte que ficava cerca do local onde hoje está a capela e que ali iria encontrar uma pomba branca pousada sobre um ramo de um pequeno arbusto e que, escondida por este, encontraria uma imagem da própria Virgem que devia retirar dali.
Catarina teve artes de convencer o marido a acompanhá-la na jornada até junto à ribeira do Ouro e, no local que lhe fora mostrado no sonho, lá estava a pomba branca e escondida, debaixo dos arbustos, acharam a imagem da Virgem que, diz também a lenda, o casal levou para sua casa, “com grande alegria e reverência…”
Tempos depois a imagem foi colocada no interior de uma capela, mandada fazer pelo casal, junto da tal fonte. E à imagem deram o nome de Senhora do Ó por ter sido encontrada no dia e que se fazia a festa à senhora da Expectação ou do Parto.
O tempo foi passando e muitos anos mais tarde demandaram a barra do rio Douro, nove navios ingleses. Um deles ao passar diante da capela onde estava a imagem da Senhora do Ó parou. Alarmaram-se o comandante e os tripulantes por não encontrarem muito que justificasse tal imobilidade. E foram baldados todos os esforços feitos no sentido de fazer com que o navio prosseguisse a viagem, como acontecera com os outros. Mas, não. O barco parecia agarrado ao fundo do rio.
Começa aqui a segunda lenda. A bordo deste navio que se recusava a continuar a subida do rio Douro, viajava uma imagem de Cristo Crucificado que um grupo de católicos ingleses , que também estavam a bordo, haviam trazido de Inglaterra para a furtar aos desacatos que, por aqueles tempos, ali eram constantemente cometidos pelos hereges ingleses .
Lembrou-se então o mestre do navio de que a bordo vinha aquela imagem e ordenou que a desembarcassem e levassem até à capela que estava ali perto. Diz a lenda que mal a imagem entrou no pequeno templo o navio reiniciou a subida do rio Douro.
Moral da história: o Cristo Crucificado queria apenas juntar-se à imagem de sua Mãe e ali ficou passando o pequeno templo a ser conhecido, depois disso, por capela da Senhora e do Senhor da Ajuda põe quem os calafates e os carpinteiros navais dos antigos estaleiros do Ouro tinham uma grande devoção.