Cerca de uma dúzia de urgências de Obstetrícia e Ginecologia fecharam, temporariamente, por falta de meios humanos. Algumas, nos principais hospitais públicos nacionais, como o de Santo André, em Leiria, tendo a crise afetado, mesmo, a principal unidade do País, o Hospital de Santa Maria. A situação replica o problema sentido, invariavelmente, nos últimos anos, sempre que se chega a agosto, mas que também surge noutros momentos críticos de redução de pessoal, por férias ou folgas, como o período das festas de dezembro. Como sempre, quem sofre é o mexilhão, ou seja, as populações afetadas, mas, além dos prejuízos causados aos utentes, a gritaria centra-se, quase sempre, na questão política e nas responsabilidades partidárias pela degradação do Serviço Nacional de Saúde. É nestas alturas que PS e PSD trocam acusações sobre qual é mais culpado, discutindo pela rama um problema de fundo, relacionado com a falta de pessoal médico, nestas especialidades – dizer que se deve contratar mais profissionais é fácil, mas onde se vão buscar? – e na fuga de quadros para o setor privado, onde se ganha mais e se tem menos chatices. Na verdade, as reações pavlovianas dos partidos são demasiado previsíveis para serem levadas a sério: na oposição, o PS está a vingar-se, reagindo exatamente como o PSD fazia quando estava no seu lugar. Esta semana, os socialistas promoveram uma série de reuniões com as administrações dos hospitais afetados, para se “inteirarem do assunto”, como se não o conhecessem de trás para a frente: ainda no ano passado, eram eles que fechavam urgências e serviços de Obstetrícia… E nem a criação da Comissão Executiva resolveu o problema: apenas se mudaram as pessoas que têm de o gerir. No Governo, por outro lado, o PSD (que ia resolver tudo em 60 dias, lembram-se?…) comporta-se exatamente como o PS quando estava no seu lugar, acusando os socialistas de quererem aproveitar-se das dificuldades do SNS para “atacar o Governo”… A sério?! Não me digam!…
A troca de argumentos e de acusações seria risível se a situação não fosse dramática. O ridículo atinge o apogeu quando ambos os partidos se acusam mutuamente de querer liquidar – ou de ter destruído – as capacidades do SNS. Mas o PS, que justamente reivindica a paternidade de um dos serviços de saúde públicos, apesar de tudo, mais eficientes do mundo (malgrado os sinais de rotura dos últimos anos), tem de ter a responsabilidade maior, por ter exercido durante muito mais tempo funções governativas, nas últimas duas décadas. Bater no peito pelo SNS e pela glória da sua criação é como o dirigente daquele clube que se ufana de um passado glorioso, mas que nada fez para impedir a descida de divisão. Neste caso, tanto socialistas como sociais-democratas tenderam sempre a achar que os problemas do SNS se resolvem despejando lá dinheiro. Quando os principais problemas foram sempre as políticas públicas e a gestão. Percebeu isso o anterior governo quando foi buscar o mais bem-sucedido gestor hospitalar, Fernando Araújo, para liderar a nova Comissão Executiva (recebida com ceticismo pelo PSD que, uma vez no Governo, a manteve, embora com outra liderança…). Mas era tarde. O problema resolve-se (mitiga-se?) com políticas e não com milagreiros. Enquanto isso, vão acontecendo episódios como o das Caldas da Rainha, onde uma grávida com uma hemorragia ficou que tempos à porta do hospital… Até quando?
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