Aqui chegados, uma semana após o terramoto político de 7 de novembro, manda a prudência que se diga que caminhamos em terreno escorregadio: é mais o que não sabemos do que o que efetivamente sabemos. Escrevo na tarde de terça-feira, 14, após a notícia de que o Ministério Público tenciona recorrer das medidas de coação dos cinco arguidos detidos na semana passada, no âmbito da Operação Influencer. No espaço público, onde decorre o julgamento mediático, não se vislumbra como, no final desta batalha, poderemos prosseguir com a guerra da crise do regime, e muito menos com a “vida normal” do pós-guerra.
Manda o bom senso que se diga também que há vozes justiceiras nos dois lados da trincheira. Não está em causa o direito de essas vozes existirem, claro que podem expressar-se em liberdade; está em causa que se alastrem, anarquicamente, como se fossem combustível num incêndio, quando se sabe que este incêndio tem potencial para provocar danos no nosso património comum. A prova de fogo de um moderado é quando este – perante o argumento mais ignóbil dos argumentos ignóbeis, a opinião mais extremista das opiniões extremistas, a posição mais intolerante das posições intolerantes – consegue vencer o adversário recorrendo apenas e só aos princípios, aos valores e, se necessário for, à Lei. Nos momentos em que perde, o moderado também precisa de conseguir resistir (e, convenhamos, em tempos polarizados como os que vivemos, tem havido muitos momentos desses…). O leitor pode até achar (e bem, certamente) que descrevo uma versão aproximada da definição de herói quixotesco. Mas, num País periférico, com escassos recursos económicos e humanos, o que restará quando tudo arder? Para lá do negócio dos madeireiros, o que floresce depois da política da terra queimada?