1.No último comentário nesta página falei, a propósito da rentrée, da “mesmice” na política portuguesa e na forma de a fazer. Alguns leitores surpreenderam-se com essa minha visão, aparentemente de um pessimismo, ou ceticismo, ou ambiguidade, que em regra não caracteriza o que escrevo ou digo. Julgo, porém, que a surpresa não se justifica, é verdade que a “mesmice”, em geral, continua.
Continua, por exemplo, a em larga medida se verificar o que já sintetizei assim: fazer, no governo, o que se criticou enquanto na oposição; fazer, na oposição, o que se criticou enquanto no governo. E agora mesmo, tanto quanto me pareceu pelo que li/vi da campanha para as eleições na Madeira, em múltiplos aspetos o argumentário de PS e PSD é o inverso do a nível nacional, porque cada um deles num lado está na oposição e no outro está no Governo.
2. Enquanto isso se verifica no dia a dia político, vão ficando para trás, vão-se mesmo esquecendo, questões mais de fundo sobre as quais chegou a haver estudos, debates, convergências que não tiveram depois qualquer consequência prática. Cito um exemplo extremamente significativo: a tão desejável, necessária, reforma do sistema eleitoral. Quando Marcelo foi líder do PSD, e António Costa ministro da Administração Interna, houve diálogo, avanços, desenvolvimentos promissores nesse sentido, que deram a esperança de alguma coisa ser feita. Mas, a pretexto da imposição pelo PSD, não aceite pelo PS, da diminuição para 180 do número de deputados, tudo ficou congelado até hoje – e é tema de que há muito nem se fala!
3. O que escrevi não exclui que se devam assinalar como bastante positivas diversas medidas tomadas pelo Governo para minorar as crescentes dificuldades da população mais carenciada, e de boa parte da classe média, por força da inflação, da subida das taxas de juro, etc. Face a essas medidas não só é legítima como natural a discordância, saudável caso se apresentem alternativas credíveis. O que faz parte da mesmice é, face a tudo o que vem do Governo, mesmo flagrantemente no bom sentido, apenas repetir, com razão ou sem ela – é pouco ou muito pouco, já vem tarde ou muito tarde…
4. Nas eleições da Madeira, o que, de par com uma pesada derrota do PS, seria uma expressiva vitória do PSD e sobretudo de Miguel Albuquerque, deixou de o ser por este não atingir o objetivo fixado e constantemente sublinhado: a maioria absoluta. Com uma poderosa agravante: a de Albuquerque proclamar que só continuaria no Governo se tivesse essa maioria. Não a teve e a primeira coisa que disse foi o contrário – que continuaria… (Além do mais, este tipo de procedimento é dos que contribuem muito para o descrédito dos políticos e para a desconfiança perante a democracia). Enfatizando a recusa de qualquer acordo com o Chega. O que no caso só quereria dizer alguma coisa se precisasse de quatro deputados – os que o Chega elegeu – para ter a dita maioria; bastando um, tem muito mais à mão o PAN e/ou a IL.
Não compreendo, de resto, como pode ser considerada uma, enfim!, clara recusa de qualquer entendimento do PSD com o Chega, a nível nacional, a declaração de Luís Montenegro, que por lá andou e ficou a tentar aproveitar-se/apropriar-se, até à última gota, da vitória certa nas eleições – com tão constante e obsessiva presença, aliás, de certo modo pondo em questão a “autonomia”. Declaração, até infeliz, que foi: “Não vamos governar nem a Madeira nem o País com o apoio do Chega porque não precisamos.”
E se precisassem?… E se precisarem?…
5. Como talvez muitos, assisti, via TV, à abertura dos trabalhos da Assembleia Geral da ONU, ouvindo na íntegra três das primeiras sete intervenções, duas delas em português, uma, a inicial, por um português. Este, claro, António Guterres, a que se seguiu o Presidente do Brasil, Lula da Silva, e, em sétimo lugar, Marcelo Rebelo de Sousa. De certa forma uma “honra”, três boas intervenções. De que aqui não cabe falar, nem conseguiria dizer nada ainda não dito. Já o consigo, “À margem”, sobre um problema meu, mas também da minha rua, e de milhares de residentes em Lisboa afetados pela(s) práticas da EMEL.
À MARGEM
EMEL, um escândalo
A rua, avenida, em que vivo, em Lisboa, muito televisiva durante a visita do Papa, tem só algumas centenas de metros e uma grande falta de estacionamento. Mas um lado inteiro de um dos seus três quarteirões, cerca de 100 metros, está todo destinado a praça de táxis, seis lugares, e serviço de um hotel, decerto a razão de criar tal praça. Só que o hotel fechou com a pandemia, há três anos, e nunca reabriu – mas mantêm-se as placas da praça, onde não há táxis, e do hotel, onde não há hotel.
Um residente como eu, com cartão (pago) da EMEL, chega a casa, não tem lugar “permitido”, tem dezenas e dezenas de metros desocupados. Em situações de premência e necessidade deixa lá o carro, mesmo por pouco tempo, ou de noite (para sair de manhã) e depois quando regressa não o encontra ou está bloqueado. A EMEL, que escandalosamente não fez o que devia, tem ali um ótimo negócio: só eu, em poucos meses, por três “infrações”, já paguei centenas de euros. Há mais, fica para outra vez.
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