Com o país em alerta devido a chuva intensa, que levou rios a galgarem as margens, a que a água “conquistasse”casas, garagens, túneis, estabelecimentos comerciais, derrubasse pontes, muros e deixasse um rasto de destruição, bombeiros e autarcas foram para o terreno para cumprir a sua missão. Foram dias e noites sem descanso, num trabalho árduo que ainda não tem data para terminar.
No momento do caos, o autarca da capital fez o que se espera dele, foi para a rua, para junto da população, e coordenou as operações no terreno. À comunicação social disse que as intensas chuvas que provocaram inundações fazem “parte das mudanças climáticas”, e prometeu a construção de dois túneis de drenagem até 2025.
Sem perder de vista que foi eleito para servir a população, Moedas continuou no terreno. A acompanhá-lo os membros da sua equipa, ainda que se saiba que o presidente da República esteve ao seu lado em Alcântara nas primeiras horas da “catástrofe”. E por onde andou o Primeiro-ministro, a Ministra da Presidência, o Secretário de Estado Adjunto do Primeiro-ministro? Não sabemos. Ou melhor, confirmou-se, entretanto, que o Primeiro-ministro e ex-autarca de Lisboa ignorou o seu sucessor num momento crítico para os lisboetas.
Sem deixar de lado o seu estilo, Carlos Moedas apresentou-se igual a si próprio, mas com uma nuance que faz toda a diferença: arregaçou as mangas e foi/está no terreno. É certo que é este o seu papel. É isto que se espera de um autarca. Mas municípios houve em que o rosto que vimos foi o do vice-presidente. Em Lisboa foi o tecnocrata quem foi para a rua, que executou. É caso para perguntar: não estará na hora de Moedas pensar nas legislativas? Bem sei que há muito fez saber que o seu compromisso é com a capital, mas não será ele a estrela-guia que o PSD precisa?
Com a água da chuva numa dança sem tréguas, a Ministra da Presidência visitou, finalmente, Algés e Loures e prometeu que o Governo não vai hesitar em recorrer a “todos os instrumentos nacionais e europeus que existem” para apoiar os municípios afetados pelas chuvas torrenciais. Tenho esta ministra como uma promessa dentro do PS. Resta esperar para ver que instrumentos vai apresentar e quem serão os “escolhidos” para os tocar. Nos incêndios de Pedrogão, em 2017, alguns “músicos” fizeram batota e o fundo Revita demorou a chegar.
Por falar em fundos e ajudas, não posso deixar de criticar o quanto este governo faz questão de distribuir subsídios pelas famílias ao invés de baixar impostos, como por exemplo o IVA do cabaz de compras, o ISP e IVA dos combustíveis. Será que ainda não se percebeu que não é com subsídios que se agita a economia? Do que serve receber 500€ de subsídio se numa ida ao supermercado uma fatia deste valor é devolvida ao Estado? Se numa ida à bomba de gasolina uma parte é devolvida ao Fisco?
A terminar, pergunto-me qual seria a reação dos portugueses se em vez de António Costa tivesse sido Montenegro ou Carlos Moedas a apelidar de “queques que guincham” os deputados do Iniciativa Liberal, que foram eleitos por cerca de 5% dos portugueses?
Sabemos que António Costa está confortável no seu papel de primeiro-ministro, que tem uma maioria parlamentar que o suporta, que já viu sair três líderes partidários, que gosta de desvalorizar as burradas que os seus ministros fazem e que não se importa de ter clãs no seu governo. Mas será, mesmo, capaz de ficar os próximos 4 anos no governo? “Habituem-se” é um verbo forte e que em política ou na vida deve ser usado com parcimónia. Afinal, todos somos substituíveis.
Em Lisboa nasceu uma estrela, resta saber se nos guia para Belém ou para São Bento.
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