Em maio de 2021, Pedro Passos Coelho tinha aparecido, pela última vez, numa iniciativa política, na altura, a Convenção do MEL (Movimento Europa e Liberdade), tida como uma espécie de reunião federativa das direitas portuguesas. Nesse dia, Passos foi o centro de todas as atenções mediáticas – mas entrou mudo e saiu calado. A liderança de Rui Rio sofria de uma fragilidade crónica e, para muitos sociais-democratas, estava ali, de regresso, o D. Sebastião do PSD. Quinze meses volvidos, o antigo primeiro-ministro volta a participar num evento político, desta vez, estando presente na Festa do Pontal, a rentrée social-democrata, decorrida este domingo, 14, no Calçadão da Quarteira.
Com uma liderança nova e supostamente alinhada com o passismo, mas aglutinadora de várias tendências e ainda não contestada por ninguém, o interesse mediático sobre o que Passos teria para dizer esmorecia bastante. A sua presença era pouco mais do que uma curiosidade e o ex-líder “laranja”, distendido, prestou, desta vez, algumas declarações. Sim, estava ali porque achou importante apoiar o líder do seu partido, de quem é amigo e com quem trabalhou. E a uma pergunta de uma “jornalista” improvisada – uma militante do PSD que se acercara das câmaras enquanto Passos falava –, que quis saber se ele não estava a pensar candidatar-se a Belém, respondeu de forma redonda: “Estou fora da vida política e assim vou continuar.” Nem sim, nem não. Nem por quanto tempo vai continuar “de fora”. A seguir, sentou-se na mesa principal, para jantar à direita de Luís Montenegro.
Passos Coelho não estava ali, apenas, para apoiar Montenegro. Às razões da razão, somavam-se as do coração. Foi em 2010, recém-empossado líder do PSD, que Passos reativou a Festa do Pontal, depois de anos de erosão e perda de influência na agenda política. E foi de lá que arrancou para um ano político inesquecível, que incluiu a queda do governo Sócrates e a vitória nas legislativas. Vitaminado pela presença de Passos – mas sobretudo pelos bónus que o Governo lhe tem dado, já lá vamos –, Luís Montenegro ensaiou um discurso de aparente improviso, no qual se detetavam pontos de contacto com a já distante intervenção de Passos, naquele mesmo local em 2010. A diferença, porém, é decisiva: o Governo do PS, estribado numa maioria absoluta, não está a prazo e não deve cair para o ano.
Ainda assim, Luís Montenegro mantém um estado de graça que o Governo socialista tem feito o favor de lhe prolongar. O líder do PSD parece ser um homem de sorte: na semana em que seria empossado em congresso, o executivo de António Costa deu-lhe o mote para o discurso crítico, ao fazer rebentar a bomba dos despachos sobre o novo aeroporto de Lisboa, a decisão unilateral do ministro Pedro Nuno Santos e a desautorização feita por António Costa. E na semana em que está a arranjar assunto para o discurso do Pontal, eis que o Governo volta a fornecer-lhe munições, com a polémica contratação do ex-diretor da TVI Sérgio Figueiredo, para consultor em matéria de análise de políticas públicas, uma função que a estrutura criada pelo Governo, a PlanApp, já desempenhava. Com um salário de ministro, sem exclusividade, e com toda a aparência de troca de favores protagonizada pelo ministro das Finanças, Fernando Medina, ex-comentador da TVI contratado por Sérgio Figueiredo… A seguir, as declarações desastradas da ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, insinuando que o Governo está a castigar a CAP pelo facto de esta confederação ter desaconselhado o voto no PS. Quem se mete com o PS leva… mas Montenegro agradece.