O setor da construção e do imobiliário em Portugal, que chega a atingir mais de 30 mil milhões de euros de volume de negócio gerado por ano, é um dos mais importantes drivers da economia portuguesa, contribuindo para mais de 15% do PIB e ultrapassando setores como o do turismo, do retalho ou dos serviços financeiros.
Não obstante, a saúde deste setor está muito dependente da evolução do mercado ao nível global. À medida que a economia retrai e os contrangimentos de crédito impactam o investimento, tende a nascer uma nova crise. Isto ganha particular relevância numa indústria que contribui para cerca de 10% do emprego e em que muitas empresas têm uma elevada alavancagem financeira e frequentemente experimentam problemas de tesouraria, por variados motivos como sobrecustos ou atrasos nos pagamentos a receber.
Pela sua relação íntima e recriproca, também o setor financeiro se ressente com a quebra ao nível dos créditos concedidos, cuja fatia da construção e do imobiliário, alocada ao financiamento de empresas e à compra de imóveis, pode chegar a representar mais de 50%.
O clima político e económico teve um impacto drástico na construção portuguesa entre os anos de 2002 e 2016, em que a indústria sofreu uma perda de produção acumulada superior a 50%. A recuperação do setor iniciou em 2017 com um crescimento que se previu continuar até 2030, principalmente devido ao investimento público e privado nos setores das infraestruturas e residencial, respetivamente. Contudo, a chegada da pandemia alterou as premissas, pairando atualmente no mercado várias incertezas relativamente à evolução nos próximos tempos.
Posto isto, subsiste a seguinte questão: como evitar ou controlar uma nova crise?
A indústria da construção e do imobiliário padece de um conjunto de problemas sistémicos que, sem resolução ou mitigação, constituirão sempre fragilidades dificilmente colmatadas com medidas não sustentáveis como a simples injeção de capital.
Primeiramente, trata-se de uma indústria altamente fragmentada, em que mais de 99% das organizações são PME, havendo assim a necessidade de aumentar as barreiras à entrada e de promover estratégias por diferenciação ao invés da tradicional lowest cost bid strategy. Por efeito, as empresas teriam mais escala para negociar competitivamente com fornecedores e clientes, aumentando a sua rentabilidade.
Mais recentemente, a escassez de mão-de-obra especializada para os trabalhos de construção e o aumento dos custos de construção, sobretudo devido ao incremento dos custos de materiais e de mão-de-obra, têm sido também desafios maiores a considerar. Neste sentido, o investimento na formação e qualificação e o incentivo à indústria dos materiais de construção, seja por importação ou produção própria, tornam-se essenciais.
Para o horizonte 2030 está previsto um significativo investimento público em infraestruturas, o que é deveras importante para estimular a economia e, subsequentemente, incentivar o desenvolvimento do setor privado. Não obstante, o investimento privado requer menos burocracia e mais capacidade administrativa nos municípios, permitindo menos tempo dispendido na obtenção de licenças de construção e de utilização. Requer também mais incentivos fiscais e disponibilidade de crédito, considerando o financiamento de bancos estrangeiros complementarmente aos bancos locais.
Por fim, é fundamental promover a diversificação do negócio das organizações, quer para novos mercados quer para outras áreas de atividade relacionada, como medida de mitigação do risco. A expansão das empresas para mercados internacionais, além dos tradicionalmente conhecidos em África e América do Sul/Central, requer mais incentivos governamentais, incluindo a facilitação de sinergias e parcerias estratégicas entre organizações ao nível nacional e internacional. Adicionalmente surge a inovação enquanto eixo estratégico incontornável para a diversificação e expansão sustentável das empresas. Neste sentido tem de haver um maior estímulo à investigação e desenvolvimento sobre novos materiais e tecnologias da construção, e uma maior aposta na indústria 4.0 e na economia circular, promovendo assim mais eficiência, eficácia e sustentabilidade no ciclo de vida dos ativos.