Todas as famílias portuguesas sonham em serem proprietárias da sua própria casa, verificando-se que cerca de três quartos dos Portugueses têm habitação própria, sendo esta percentagem ligeiramente superior à média Europeia (70%), mas estando muito abaixo de Países como a Roménia (96%) e a Eslováquia e Lituânia (90%). No centro e norte da Europa a percentagem de população com habitação própria fica abaixo da média europeia, de onde se destaca a Alemanha (53 %).
Se tivermos presente que no Portugal de 1960, apenas 39% das famílias Portuguesas tinham habitação própria, a evolução deste indicador tem sido considerável. Para o efeito muito contribuiu o congelamento das rendas durante décadas e a constante incerteza nas leis de arrendamento, que mudam ao sabor da ideologia política reinante, contribuindo para a redução considerável do parque habitacional para arrendamento e para uma menor disponibilidade dos investidores para esse mercado. Por outro lado, o impulso também surgiu do incremento na promoção de empréstimos hipotecários de médio/longo prazo por parte da banca nacional, com taxas de juro atrativas.
A aquisição de habitação pelas famílias é encarada como um investimento de longo prazo, que a maioria realiza uma ou duas vezes na vida. Isto faz com que a decisão de aquisição de um imóvel por uma família seja um momento fundamental da vida desse agregado, não devendo ser tomada de forma leviana ou desinformada.
O período de crise que Portugal atravessou entre 2011 e 2015 tornou muito evidente a forma como as más decisões no momento de adquirir uma habitação podem condicionar consideravelmente a vida de uma família. O sobre-endividamento e o quase completo congelamento do mercado imobiliário, determinou uma quebra substancial nos valores dos imóveis, pelo que perante uma situação de aflição, muitas famílias tiveram de entregar as suas habitações aos bancos e ainda ficarem com dividas associadas a esse investimento.
Aquilo que estimula uma família a adquirir uma habitação está mais dependente da necessidade que a família tem desse bem, do que dos ciclos imobiliários. Mas o que se assistiu no período pré-crise foi que as famílias incentivadas pelas fortes campanhas bancárias de juros baixos e pelo desejo de adquirem habitação ou, em alguns casos, melhores habitações, levou a que muitas aquisições fossem realizadas sob pressão, sem que existisse a necessária reflexão e estudo sobre o investimento que estavam a realizar. Os resultados destes factos são os que conhecemos durante o período da crise.
É obvio que quem compra na fase valorizada do ciclo imobiliário, vai investir mais e sujeitar-se a perder dinheiro, caso por alguma razão tenha necessidade de vender numa fase menos valorizada do ciclo. No entanto e uma vez que não é a valorização do activo a motivação da maioria das famílias, é importante que as famílias que procuram actualmente adquirir uma habitação estejam suficientemente informadas sobre o mercado imobiliário onde pretendem adquirir e que apoiem a sua decisão e o risco associado à mesma no parecer de um perito avaliador de imóveis devidamente habilitado para o efeito.
O agente imobiliário é um elemento importante do processo de aquisição de habitação, mas se aconselhar sobre o valor ou a qualidade da mesma, está perante um conflito de interesses, pois tem um interesse direto na comercialização. Aqui, o perito avaliador de imóveis é o elemento chave, dada a sua independência face à comercialização, fornecendo uma opinião isenta e tecnicamente válida. Essa intervenção pode centrar-se numa opinião de valor sobre o imóvel, mas também numa peritagem sobre a qualidade da construção, que pode poupar muito dinheiro às famílias, evitando problemas no futuro. Atualmente a maioria das sociedades de avaliação que integram peritos avaliadores, fornecem igualmente estes serviços de peritagem de imóveis.
Uma aquisição de um imóvel por uma família é um investimento demasiado importante para não ser bem acompanhado.