
Conheço este mar. Foram os nossos descobridores que me ensinaram a olhá-lo olhos-nos-olhos. Forte, refilão, cresce para a areia autoritário, leva e traz da margem sem pedir licença, ruge como nenhum outro. É este mar que espuma à minha frente enquanto escrevo esta crónica: o Oceano Atlântico. Nome que vem do Atlas (Titã da mitologia grega).
Para trás, ficaram paisagens paradísicas, postais da savana arborizada e da selva impenetrável com árvores que atingem os 40 metros de altura e rios que são utilizados para o transporte de madeira.
Para trás, ficou uma história de policias falsos e até policias verdadeiros que à noite, em modo de horas extraordinárias, vestem o papel de mau da fita.
Cheguei a perguntar a um policia ser era verdadeiro ou falso. Soltou uma gargalhada e respondeu: “o que é que acha?”
– Espero bem que seja verdadeiro. Respondi eu.
– Vá com calma. O próximo controlo de policia é à entrada de Korhogo. Se lhe aparecer algum “controlo” antes, não pare. Refugiamo-nos em Korhogo, uma cidade que nos impressionou pela sua grandeza.
Para trás, ficou Yamoussoukro, capital politica e administrativa da Costa do Marfim e da famigerada Basílica nossa Senhora da Paz. Construção megalómana erguida pelo primeiro presidente da Costa do Marfim, Félix Houphouët-Boigny, após a independência. Considerado o maior edifício religioso católico do mundo foi construído à semelhança da Basílica de S. Pedro em Roma. Comporta 7.000 lugares sentados e 11.000 de pé.
Os mármores vieram de Itália, Espanha e Portugal e os vitrais de França. De início havia mesmo um vitral gigante com Jesus ao centro, o Presidente da Costa do Marfim ao seu lado direito e o arquiteto, o libanês Pierre Fakhoury, ao seu lado esquerdo.
Consta que o vitral foi retirado e está guardado numa das alas por exigência do Papa João Paulo II quando da sua visita.
A construção da Basílica durou 25 anos e foi inaugurada em setembro de 1990. A população da Costa do Marfim é 88% muçulmana e 12% católica. Esperava-se entre 700 a 1000 visitas por dia. No dia que lá passamos os portões estavam fechados a cadeado.
A nossa passagem pela província de Tiebissou foi gratificante. Na aldeia de Konde Yo Kro, encontramos os “Pagnes Baoulés” tecidos coloridos confecionados ao tear. São feitos a partir de fio de algodão e os jovens da aldeia são os manufatores destes lindíssimos tecidos. O lucro da venda dos produtos manufaturados contribui para a subsistência das suas famílias que colaboram no processo, desde a fiação à coloração.
Abidjan é uma cidade em explosão de desenvolvimento. Os arranha céus das multinacionais crescem a olhar de soslaio para os bairros de lata. O “plateau” financeiro assemelha-se à La Defense de Paris e por todo o lado vê-se gruas de construção no “ar”. Estamos, sem margem para dúvidas, numa das grandes cidades da África ocidental.