
Entrando pela fronteira de Pogo (Costa do Marfim) a pista de terra vermelha separa os campos de milho, malaguetas e as plantações de algodão, estas últimas em maior número.
Originária das Antilhas britânicas, a planta do algodoeiro foi introduzida na Costa do Marfim no século XIX pela França a fim de contrapor o monopólio de exportação dos EUA e do Egito, numa época em que essa matéria-prima representava cerca de 90% do mercado mundial de têxteis (contra os 32% da atualidade, decorrente do desenvolvimento dos materiais sintéticos).
Mas, os primeiros a desembarcar na Costa do Marfim foram os portugueses no século XV e o nome do país data dessa época. Provavelmente, foram os nossos descobridores que lhe deram o nome.
E a propósito, enquanto os nossos passaportes eram manuseados por um policia alto, atlético e bem-disposto, que nos perguntou se o Cristiano Ronaldo vinha connosco, eu disse qualquer coisa à Glória e pronunciei as palavras Costa do Marfim. O policia deixou de folhear franziu a testa e objetou: “Costa do Marfim…Costa do Marfim… deve dizer Cote d’Ivoire. Cote d’Ivoire é que é!”.
Estávamos numa barraquinha de madeira sentados num banco corrido, paralelo à lateral da secretária do nosso interlocutor. Do lado oposto, outro policia igualmente com ar de Robocop comia uma pratada de arroz alagado num molho espesso com alguns bocados de carne, ao mesmo tempo que observava a nossa reação. Não estávamos em condições de o confrontar.
– Desejo-lhe uma boa estadia no nosso país e, a partir de agora, já sabe: é Cote d’ Ivoire e não Costa do Marfim. Bonne Route.
Alguns quilómetros mais à frente encontramos Amidou, um simpático criador de algodão que vive com a mulher, três filhos, os pais e a avó. Ficamos com a perceção que estávamos perante um homem feliz. Orgulhoso da sua família e do seu trabalho. Ficamos felizes por ele.
Férkéssédougou é um nome estranho, mas foi nesta localidade que a pergunta que o policia nos fez ainda pareceu mais bizarra: “Vocês são da Michelin?” Perante o nosso estupefacto, justificou: “Temos a informação que vai passar aqui um carro, da Michelin com as características do vosso. Andam a fazer as cartas geográficas”
Respondi: eles são bons em cartas geográficas, nós somos bons em pneus.
Depois de olhar bem para os nossos autocolantes, pediu desculpa e fartou-se de rir. Na hora da despedida recomendou: “conduzam com cuidado porque a pista está em muito mau estado; conduzam só até às 18 horas. Não conduzam depois dessa hora, é perigoso, podem encontrar falsos policias que vos despojam de todos os bens.” Entramos no hotel Chigata, em Korhogo, eram cinco e um quarto da tarde.