Marraquexe espreguiça-se sob o céu nublado e com o apelo do “Imam” que entoa cantos hipnóticos amplificados pelos autofalantes do minarete da mesquita, apelando à oração e incentivando os fiéis a passar pela vida cumprindo os desígnios Corão, que é como quem diz: a montanha não vai ao Maomé, vai o Maomé à montanha.
Marraquexe a par de Fez é das cidades mais turísticas de Marrocos, cidade Imperial do reinado de Mohammed VI (Maomé VI), situada perto do sopé norte da cordilheira do Alto Atlas.
É impossível visitar Marraquexe numa manhã. Embora conheça Marraquexe há mais de quarenta anos; ainda me lembro da praça Djema el Fna em terra batida, é sempre com muito prazer que a visito. Já não é o que era, mas ainda podemos encontrar resquícios do encanto e do mistério de outrora. Hoje, é um vai-e-vem de grupos de turistas que seguem o guia, de chapéu de sol aberto, ao encontro de pseudo encantadores de serpentes, adivinhadores, contadores de histórias e curandeiros. Eu fico-me pelo sumo de toranja, na barraquita nº 20, do meu amigo Hassan.
Os turistas perdem-se satisfeitos na Almedina (Medina), com os olhos postos nas cores das especiarias, das frutas, das flores secas, inebriados pelos perfumes, pelo exotismo, pelo fervilhar das ruelas estreitas e frescas. Nunca passou pela cabeça dos Almorávidas quando a construíram, em 1071, que estavam a criar um destino turístico por excelência com a chancela de Património da humanidade.
O nosso passeio matinal é rápido, mas intenso. Saímos do Riad Ali Drissi, um encanto, situado num “Derb” (Vila). Atravessamos a “loucura” da Medina em direção à praça Djema el Fna, em modo de quem tem mais que fazer. O ritmo dos turistas é diferente e, por isso, são mais assediados pelos lojistas a comprar tudo e mais alguma coisa.
Percorremos a sofisticada rua Dar El Bacha, onde a arte genuinamente marroquina se distingue sem o estigma do “Made in China”: estilistas, pintores, ourives, artistas plásticos. Não se discute preços e as tee.shirts e os stylo não tem valor comercial de troca. Passamos pela zona dos curtumes, em seguida entramos no mundo maravilhoso dos artesãos e acabamos por entrar num Fondouk, assim se chamavam os antigos albergues onde caravanistas e animais pernoitavam protegidos de eventuais tempestades do deserto. Hoje, decadentes, nostálgicos e até românticos foram transformados em improvisados centros comerciais.
Não atravessamos a praça, sem antes beber o melhor sumo de toranja do mundo. À nossa frente ergue-se quase há mil anos, o Ex-Libris da cidade: a mesquita Koutoubia. Mandada construir por Abd al-Mumin, que também construiu a de Sevilha. Com os seus 69 metros de altura é o edifico mais alto de Marraquexe (sendo proibida a construção de edifícios mais altos).
De regresso atravessamos de novo a Medina e fomos à antiga escola do Corão, Ben Youssef. Ninguém pode dizer que conhece Marraquexe se não conhecer esta antiga Madrassa. É visita obrigatória. O ingresso custa 20 Dirham e é, em termos
arquitetónicos e artísticos, um tesouro, se bem que a sua decadência é visível de ano para ano, mas como disse, a visita é obrigatória. Entre os mármores italianos, os gessos trabalhados destaque para os azulejos. Depois de colados à parede o artesão com um cinzel esculpe o vidrado, desenha formas e letras.
Marrquexe, fica por aqui. O tempo escasseia e ainda temos cerca de 600 km para percorrer, até Tan-Tan.
