Brasília, 17 Abr (Lusa) – O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) está a mobilizar-se em todo o Brasil, promovendo manifestações e invasões para lembrar o massacre de Eldorado do Carajás, que completa hoje 13 anos, e reivindicar a reforma agrária.
A 17 de Abril de 1996, 19 trabalhadores rurais morreram durante confrontos com polícias militares no Estado do Pará, após terem interditado uma auto-estrada para protestar contra a demora da desapropriação de terras na região amazónica.
O massacre de Eldorado dos Carajás, uma das acções policiais mais violentas do Brasil, teve grande repercussão no país e no exterior e, em 2002, o Presidente Fernando Henrique Cardoso instituiu a data como o Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária.
Dois acampamentos, que deverão reunir mais de 1.000 pessoas, foram montados no local do massacre e, por todo o país, há vigílias, protestos e invasões de latifúndios improdutivos, de acordo com os organizadores.
O MST lamenta que, 13 anos depois, permanecem em liberdade os 155 polícias envolvidos na acção que matou os 19 lavradores e deixou centenas de feridos.
“Estamos protestando contra a impunidade e contra a paralisia da reforma agrária no Brasil. Nos últimos 20 anos, mais de 1.600 trabalhadores foram assassinados no campo e poucos responsáveis foram punidos”, disse à Lusa Marina dos Santos, membro da coordenação nacional do MST.
O MST exige o assentamento de 100 mil famílias acampadas, algumas a viver sob lona há mais de cinco anos, segundo Marina dos Santos.
A activista lembrou que, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas um por cento dos proprietários no Brasil detêm 46 por cento das terras produtivas.
“É necessário ter um programa nacional amplo e massivo de reforma agrária e que actue no sentido de desconcentrar a terra no país e implementar um novo modelo de desenvolvimento no campo”, defendeu.
Marina dos Santos disse ainda que o MST tem uma “grande frustração” com o Governo Lula da Silva “por ter preterido a reforma agrária e apostado suas fichas no agronegócio, especialmente nos monocultivos para exportação”.
Neste “Abril Vermelho”, como é conhecida a Jornada Nacional de Lutas do MST, os Sem-Terra destacam ainda que uma reforma agrária efectiva pode ser uma saída estrutural para a crise, gerando emprego, habitação, educação e saúde para a população do meio rural e fomentando o mercado interno.
CMC.
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