Pode um espirro em África provocar uma epidemia num rancho do Texas? É o efeito borboleta aplicado à pior das circunstâncias. Afinal, a globalização não são apenas as calças Levis, o rock’roll e a pizza com pepperoni. É tudo aquilo que transportamos na bagagem quando andamos de avião. O ébola ainda está longe de atingir o grau de epidemia fora de África, há uma corrida contra o tempo para que tal não venha a acontecer, os casos de contágio em Espanha e Estados Unidos são pontuais e confinam-se a pessoal médico. Contudo, numa altura em que se derrubam outras fronteiras, tornam-se frustrantes as tentativas de erguer uma nova: o vírus não tem ficha criminal nem usa passaporte e passa impunemente nos detetores de metais.
Nos anos 70, quando apareceu o primeiro surto, tudo era diferente. As freiras que ministraram um suplemento vitamínico a mulheres grávidas, com a mesma seringa (fervida mas não esterilizada) e propagaram o vírus, mantiveram-no localizado naquela aldeia. Como ninguém tinha dinheiro para andar de avião, o vírus morreu por si só.
Hoje vivemos na tal aldeia global, a meio caminho entre Sidney e a Serra Leoa, e anda tudo ligado. Um vírus informático inventado por um hacker tailandês deu cabo de um sistema operativo em Massarelos. E o ébola viaja.
E é isso que preocupa os organismos oficiais e população em geral. Enquanto o vírus mata 4000 por África ficamos relativamente descansados, mas quando chega a Madrid, a 17 km da casa de Cristiano Ronaldo (como noticiava certo jornal), a coisa muda de figura. A globalização não serve necessariamente para uma maior preocupação com o outro. Mas adensa a preocupação com nós próprios.
Há esperança: os laboratórios americanos procuram encontrar uma forma de descobrir e produzir soros e vacinas, os japoneses inventaram um teste diagnóstico rápido e os chineses aumentaram a produção de termómetros.
Não há qualquer moral da história, apenas o mural do Facebook, onde se mandam bocas avulsas. Por favor, não cuspa para o chão e se espirrar ponha a mão à frente. Santinho.