“Vivemos num mundo de baixa resolução”, diz Neil Young, considerando-se um ‘evangelista’ da qualidade sonora. O músico canadiano, com 40 anos de experiência, confessa-se desiludido com os CD e os demais formatos digitais e, por isso, inventou um novo formato a que chamou Pono, e está à espera de um investidor. É verdade que nunca se ouviu tanta música, mas, por outro lado, a música nunca foi ouvida em tão baixa qualidade.
Quando apareceu o CD, nos anos 90, houve uma euforia algo precipitada. Os primeiros anúncios da Philips revelavam uma rodela fantástica, resistente a tudo: até lançavam o CD de um arranha-céus e chegava ao solo intacto. O CD seria resistente, por oposição ao disco de vinil, que se riscava. E, de início, procurava-se até, nas costas das caixas, o código DDD, que era o suprassumo do digital. A evolução tecnológica pregou-nos uma partida. Os CD riscam-se e partem-se, a sua informação é apagada com o tempo e o próprio som é incrivelmente pior do que o do próprio vinil. E agora já todos sabemos que o CD morreu ou tem os dias contados. Foi tomado pela revolução digital, do MP3, Spotify, que têm uma qualidade sonora muito fraca. As pessoas abdicaram da qualidade em favor da portabilidade.
Neil Young defende que a qualidade da música em estúdio nunca corresponde ao que fica gravado. Numa escala em que um disco de vinil corresponde a 100 por cento, um MP3 tem cinco por cento da qualidade, e um CD, 15. O Pono é assim o único formato digital que associa portabilidade a qualidade, mantendo os mesmos 100 por cento do vinil, ou seja, é fiel ao produto do estúdio. Segundo Young a falta de qualidade dos produtos apresentados é responsável pela crise discográfica, mais do que a pirataria propriamente dita que toma papel equivalente ao da rádio.
A questão de Young não é a extinção dos outros formatos áudio, mas sim dar a oportunidade, a quem queira, de ouvir música com a qualidade ótima. A execução da ideia, por si só, não é nada simples. O Pono requer um aparelho próprio, uma espécie de leitor de MP3. Só que os ficheiros são tão pesados que cada tema demora 30 minutos a fazer o download, e o aparelho não terá capacidade para mais do que 300 canções ou 30 discos. Neil Young teve contactos diversos para o desenvolvimento do projeto. Incluindo a própria Apple. E está agora em campanha para recolher fundos. O Pono difcilmente servirá as massas, mas apela à sensibilidade audiófila e faz uma reflexão sobre os contrassensos da tecnologia. Recorde-se que Steve Jobs, pioneiro e visionário tecnológico, quando ouvia música em casa, fazia rodar um álbum no seu velho gira-discos.