Conheciam-se de vista, dos tempos do liceu. Em março de 2003, encontraram-se num concerto na noite lisboeta, e resolveram formar uma banda. “O resto são histórias”, dizem. Histórias que, agora, partilham num livro de banda desenhada da sua autoria (desenhos de Tó Trips e textos de Pedro Gonçalves, publicado pela Chiado Editora), para celebrar o 10.º aniversário dos Dead Combo, que contam com quatro discos de estúdio (Vol. 1, Vol. 2: Quando a Alma Não é Pequena, Lusitânia Playboys e Lisboa Mulata).
Em Soundfiles, cabem as ‘homenagens’ a quem os tem acompanhado; as peripécias do dia-a-dia – o cabo que desaparece sempre da sala de ensaios, a correria de um lado para o outro, as entrevistas inoportunas, as ressacas -; e o seu universo particular. Os gatos pretos, as luas-cheias, os bairros de Lisboa, a música, e os dois a caminhar, lado-a-lado. Leais, mas nem sempre de acordo. “Somos como um casal”, atira Tó Trips, e o JL quis saber mais.
Jornal de Letras: Qual a melhor história destes dez anos de carreira?
Tó Trips: Foi quando fomos a um festival na República Checa, em 2006. Calhou-nos uma sala que era uma espécie de cave, muito pequena, esconsa, sem palco, e antes de nós tocava uma banda punk. Pensámos: bem, depois destes gajos partirem isto tudo, vimos nós com umas musiquitas… Vamos ser comidos aqui dentro. A sala estava a abarrotar, fazia imenso calor, o pessoal já sem t-shirt, embriagado, e nós cheios de medo, a pensar que ia correr muito mal. Mas não. Correu super bem, e ainda vendemos o merchandising todo.
Conseguem sempre fazer com que o público se renda?
Tem acontecido. Acho que é pela estranheza, que vem da música, mas também da nossa imagem. Tivemos outra reação incrível, na Hungria. Fomos tocar a Budapeste e o rapaz que organizou esse concerto levou-nos a uma cidade universitária, relativamente pequena, a Coimbra de lá. E estavam 600 pessoas para nos ver, a aplaudir de pé e tudo! Depois do concerto, ele explicou-nos que tinha uma banda com um rapaz que tinha um bar de rock nessa cidade, e que passava lá um disco nosso. À conta disso, éramos bastante conhecidos.
Então o balanço é positivo?
Sem dúvida. Até porque partimos para este projeto sem grandes expetativas. Estávamos os dois cansados dos meios de onde vínhamos (o Pedro do jazz, eu do rock), e resolvemos juntar-nos. Além disso, era um projeto instrumental, e eu sempre gostei de ter bandas, de tocar com muitas pessoas, de estar com elas, então, no início, estava um bocado inseguro. Às vezes, dava por mim a pensar: Então agora estou aqui armado em guitar hero? Só quando saíu o primeiro disco e tivemos uma boa reação por parte do público e da imprensa, é que pensámos: Olha, fixe!
Entretanto não têm parado de crescer. Houve algum ponto de viragem?
Sim, há cerca de três anos, quando entrámos para os Produtores Associados e arranjámos um manager, o Paulo Pato. Até então, fazíamos tudo sozinhos ou tínhamos agentes, mas não funcionava. Chegámos a chatear-nos, a pensar em acabar, à conta de coisas que não tinham diretamente a ver com música porque, a esse nível, damo-nos perfeitamente bem. Se não nos chateávamos com a música, porquê chatearmo-nos com coisas para além dela? Esse foi o grande salto. Encontrarmos uma equipa que acredita e investe em nós. Foi então que fizemos a Aula Magna, que começámos a dar mais concertos lá fora, que surgiu a oportunidade de irmos ao programa do Anthony Bourdain, etc.
E que sonhos têm para o futuro?
Somos uns gajos com os pés assentes na terra, não nos deslumbramos muito. Temos a noção de que um dia todo este hype pode acabar. A nossa ambição era tocar lá fora porque a música não é só para nós, e Portugal é pequeno, dá-se a volta ao país num instante. E isso temos conseguido. Está prevista uma digressão maior pelos Estados Unidos, no verão do próximo ano. Agora, um sonho? Gostávamos de tocar no estúdio dos Queens of the Stone Age, onde gravam as Desert Sessions. Isso era fixe!