Uma orquestra inteira juntou-se em Lupercalia, oúltimo disco de Patrick Wolf, a estrela eminente do indie britânico. Ao Optimus Alive vai levar uma formação mais pequena, mas mantendo a ideia de misturar chambre pop e eletrónica. O glamour está no corte de cabelo
JL: Há quem diga que está a abandonar a atmosfera indie para passar ao mainstream. É verdade?
Patrick Wolf: Não sei. Voltei agora a uma major. Será que isso significa entrar no mainstream? Na verdade, não me cabe a mim decidir isso, mas sim ao resto do mundo. Não fiz o disco com esse objetivo.
Contudo este álbum é diferente dos anteriores. Reconhece isso? O que mudou?
Todos os meus discos são diferentes uns dos outros. Este foi gravado num só estúdio. Fiz questão de que as canções fossem gravadas com muito cuidado. Quis que o registo ficasse num tom tão confidente como as próprias melodias.
Teve música clássica como formação e agora criou um álbum muito complexo, em termos de arranjos. O que é mais importante para si a escrita de canções ou os arranjos?
Se a canção for má, não serve de muito ter grandes preocupações com a gravação. Mas como achei as canções fantásticas quis mesmo que tivessem um trabalho de produção a condizer. Foi um projeto ousado, com um grande investimento. O orçamento foi mesmo muito levado, Isso sim marca a diferença em relação ao que tinha feito até agora. Os outros álbum tiveram arranjos mais pequenos. Trabalhei muito de perto com os arranjadores e isso muito gratificante. O trabalho foi meticuloso, todos os elementos incluídos foram muito bem pensados.
Inclui cordas, metias, eletrónica… Deve ser muito difícil coordenar elementos tão díspares e fazer com que tudo faça sentido e não soe apenas como uma enorme barafunda.
Servimo-nos da experiência dos álbuns anteriores, em que passámos bastante tempo em estúdios. Mas sim, a determinada altura foi essa a questão, mas acho que conseguimos resolver bem.
Havia quem estivesse à espera de um álbum de cariz político, como chegou a anunciar, mas afinal este discos fala essencialmente de amor. O que aconteceu?
Eu repensei a minha posição face a essa questão Não tenho nada a acrescentar aos discursos políticos. Julgo que o meu caminho, de momento, não é por aí. Tenho todos estes outros sentimentos para transmitir e essa é a melhor forma de gastar a minha energia por agora, em vez de atacar as pessoas e criar-lhes desconforto. Os média já atacam suficientemente as pessoas e fazem com que se sintam inseguranças. Não é preciso mais disso.
Tornou-se uma espécie de Indie Pop Star, uma celebridade. Tal incomoda-o ou lida bem com a fama?
É muito importante para o meu trabalho ter toda essa atenção mediática. Não cultivo muito a ideia de celebridade, preferia ter uma vida anónima e andar por aí à vontade sem que reparem em mim enquanto estou fazer compras na mercearia. Consigo lidar bem com a fama embora não esteja na minha natureza. Enfim, são ossos do ofício.
Por vezes a pessoas parecem estar mais interessadas na cor do seu cabelo do que na música que faz.
Sim, há pessoa que preferem passar o tempo a ver fotografias minhas do que a ouvir os discos que faço. Mas por mim está tudo bem. Se proporciono alguma forma de entretenimento às pessoas já não está mal. Mas, sobretudo depois deste álbum, decidi que a imagem é a última das minhas preocupações. A música tem que ser sempre a primeira.
Este álbum é tão complexo até mete uma orquestra. Como o vai levar para palco?
Tive que fazer uns ajustes, levo músicos versáteis. Vou ter violino, saxofone, flauta, harpa, viola e eu próprio toco piano. Gostava de tocar com uma grande orquestra, mas para já não tenho essa opção.
Num espaço ao ar livre não se perderá o som? Gosta mais de tocar em recintos fechados ou num festival?
Adoro festivais. Gosto muito de tocar para pessoas que se calhar estão a ouvir a minha música pela primeira vez, que foram lá para ouvir outra banda e, de repente, pararam para conhecer o meu trabalho. Esse encontro com diferentes tipos de público é muito bom.
Já atuou em Portugal, lembra-se disso?
Sim, lembro-me de todas as minhas atuações em Portugal. A primeira foi acústica e a segunda foi para um grande público. Foram duas experiências muito diferentes. Estou contente por voltar. A minha mãe ouve muito fado. Gosto muito da tristeza e da melancolia é algo que se relaciona bem com a música que faço.