“Esta coleção destina-se ao grande público. O nosso maior objetivo é democratizar Padre António Vieira cujos textos devem poder chegar a toda a gente”, diz, ao JL, José Eduardo Franco, diretor do CLEPUL, Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e coordenador, com Pedro Calafate, do projeto editorial de, em 30 volumes e até 2016, publicar a obra completa de Padre António Vieira, no Círculo de Leitores. Os primeiros três volumes serão lançados a 4 de abril, pelas 18 e 30, na reitoria da Universidade de Lisboa, com apresentação de D. Manuel Clemente, bispo do Porto, e os contributos de João Adolfo Henstein, estudioso brasileiro, e Luís Miguel Cintra, ator e encenador, que interpretará um dos sermões.
A coleção está dividida em quatro partes. A primeira, epistolar, terá cinco volumes, nos quais se incluem várias cartas inéditas; a segunda incidirá sobre a oratória e divide-se em 15 volumes; a terceira, profética, inclui seis volumes onde constarão textos do “imperador da língua portuguesa”, como Fernando Pessoa o designou na Mensagem, sobre o futuro de Portugal e do mundo e o Quinto Império. Finalmente, a quarta parte, vária, incluirá escritos políticos, propostas de reforma e, um dos quatro volumes, terá poesia e textos de teatro de Vieira que constituem uma grande novidade para os estudiosos. Será também publicado um Dicionário de Padre António Vieira, um “instrumento pedagógico de síntese”, como refere José Eduardo Franco.
“Desde meados do século XIX que existiram várias tentativas de publicação das obras completas de Padre António Vieira, quer em Portugal, quer no Brasil ou mesmo na Alemanha e Itália, mas nunca foram bem sucedidas. Era uma questão da mais elementar justiça publicá-las”, diz José Eduardo Franco. “Padre António Vieira era um universalista que além de nos ensinar a tolerância e a inclusão, lutou contra a segregação e a opressão”, sublinha o historiador. A recolha da obra de Vieira – “uma investigação de raiz” feita a partir “dos primeiros testemunhos, mesmo no caso de textos que já foram alvo de publicação”, explica o organizador – reuniu 32 especialistas, de 25 universidades de Portugal e do Brasil, além de uma equipa de duas dezenas de investigadores com formação em História, Filosofia, Latim, Paleografia e Teologia.
A instituição promotora da iniciativa é a Reitoria da Universidade de Lisboa e o principal mecenas do projeto a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa que acaba de fazer um contributo de 500 mil euros. A Academia Brasileira de Letras, a Academia das Ciências de Lisboa, a Biblioteca Nacional de Portugal, o Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, a Universidade Aberta, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro ou a Universidade de São Paulo são algumas das instituições científicas associadas ao projeto.