“Não há volta a dar-lhe, para os poetas, os artistas, e tutti quanti que andam a fazer qualquer coisa na terra que nenhuma esfera extraterrestre aprovou, aquilo que fazem é um instrumento para qualquer coisa na qual apenas tocam, apesar de não pararem de a absorver e regurgitar, a vida e a vida deles. Isto é observável nas fotografias de Daniel Blaufuks”, sublinha Maria Filomena Molder nesse ensaio, intitulado
“Lorem Ipsum.” A monografia abre com um autorretrato do artista, de 1994, da série London Diaries, e apresenta um conjunto de fotografias, algumas inéditas, significativo de diferentes momentos e séries. Recorde-se que Daniel Blaufuks nasceu em 1963, em Lisboa, descendendo de uma família de refugiados judeus alemães, que demandaram Portugal nos anos 30. Depois de ter vivido uma temporada na Alemanha, no final dos anos 80, estudou fotografia no Ar.Co, na Royal School of Arts, em Londres, e na Watermill Foundation, de Nova Iorque. Em 2017, fez um doutoramento na Un. de Gales, com uma tese sobre fotografia e cinema.
A sua primeira exposição foi na galeria Ether, em 1990, tendo desenvolvido um intenso projeto artístico, cruzando a fotografia, o vídeo, a instalação. Um trabalho com uma forte vertente expositiva, com apresentações realizadas em galerias, museus, festivais, no país e no estrangeiro, mas também editorial. Publicou livros de referência como My Tangier, de 1991, Sob Céus Estranhos – Uma História de Exílio, de 2007 (consagrado como o melhor livro internacional na Photo Espanha) e Lisboa Clichê (2021), o mais recente, editado pela Tinta-da-China, em que revisita a cidade dos anos 80 e 90. Também realizou filmes, entre os quais Judenrein (2018). Entre outros prémios, foi distinguido com o da AICA – Associação Internacional de Críticos de Arte, e com o BES Photo Award.
A sua obra interpela a memória, individual e coletiva, e nela se estabelecem relações com a autobiografia, a História, a Literatura e a viagem. No seu ensaio, Maria Filomena Molder faz, precisamente, notar a importância do elemento autobiográfico e a relevância do método da montagem no seu processo artístico: “Não são só os livros e a relação entre eles que obedecem ao método e ao princípio da montagem, também o modo de conceber as séries com os seus títulos e ainda o modo de obter as próprias imagens”, escreve.
No lançamento estarão presentes Daniel Blaufuks, Maria Filomena Molder e Cláudio Garrudo, diretor da coleção Ph, criada em 2017 pela Imprensa Nacional, que editou já volumes dedicados a Jorge Molder, Paulo Nozolino (ambos 2.ª edição), Helena Almeida, Fernando Lemos, José M. Rodrigues e Jorge Guerra.