Em 2014, a Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA) organizou uma exposição designada Arte Hoje. Foi uma compreensível inciativa, tendo em conta a paisagem histórica desta instituição que desenvolveu na primeira metade do século XX, ainda sob a batuta dos chamados mestres académicos, significativas exposições coletivas, os chamados Salões de Arte. Eu próprio ainda me lembro de visitar dois Salões da Primavera, onde alguns mestres de Belas Artes, sobreviventes aos ventos da história, se apresentavam com obras de razoável escala e em meio escondida disputa com amadores de valor e já novos pintores. Nessa luta contra os começos na precariedade da vida, ainda fracos com o cerco dissolvente da sobrevivência num trajeto ensombrado, quer pela falta dos proventos vitais, quer relativamente àqueles que deveriam partilhar as suas janelas de influência no conjunto dos que, tendo talento, mal podiam alimentar o seu intenso visionarismo.
Esta nova exposição Arte Hoje, é um composto histórico que poderia ser um novo empreendimento seguindo este mundo também um pouco dissolvido pelos tempos de crise entretanto vividos. Mas, não o sendo, faz um balanço histórico e estético do que se passou há dois anos e do efeito que talvez se mova sem derrotas lamentáveis, sem contar com a emigração e os efeitos demográficos soprando alguns vazios por muitos campos profissionais. As ações no domínio da cultura têm desvios muito sérios, embora se confunda o estudo profundo das atividades do espírito com o espírito dos eventos massificantes, certo apreço pela multidão relativamente às sonoridades arrasanntes.
Os prémios e os seus indícios
A exposição que ocupa a Sala Fernando de Azevedo, apresenta obras dos artistas premiados em 2014, concluindo assim um relativo balanço de artes e artistas no país, naturalmente na baseado nos muitos concorrentes, incorporando Pintura, Desenho, Fotografia, Instalação, Gravura, Vídeo, Escultura. Pelo que se vê, a abrangência dos géneros é cada vez mais aberta, produto geral dos meios técnicos e concetuais acomodados no mundo das artes visuais desde o início do século XX. Entende-se que as aprendizagens foram de facto obtidas, pluralizadas, e que a perda das representações tradicionais não significa que os percursos de outrora apareçam todos errados, até porque algumas personalidades dessa geração intermédia foram acertando a escrita em direção ao futuro.
O júri, constituído para seleção e atribuição de prémios, distinguiu alguns dos artistas concorrentes. Nesta exposição coletiva estão representados oito desses autores, mostrando, de forma bem evidente, o espírito que informou todo este trabalho. São eles: Ana Lima-Netto (“bordado”, além de límpidos desenhos); Rui Melo (metáforas visuais e picturais, de forte fisicalidade); Martim Brion e Raquel Melgue, numa apreciável representação em fotografias; Inês Garcia e suas litografias; Rogério Paulo Silva, com um vídeo; Filipa Sáraga e Lourenço de Castro com pintura.
A SNBA, com novas galerias, além do salão de grandes dimensões, salas de conferências e ateliers para o Curso de Formação Artística, é hoje uma instituição bem gerida mas muito afastada dos olhares das instituições de cultura, incluindo o próprio Ministério, despertando menos interesse aos artistas profissionais, que preferem galerias bem cotadas — tudo aspetos que, se resolvidos, poderiam ter tornat a Sociedade um dos nossos mais qualificados centros artísticos e de encontros internacionais.
› Arte Hoje
na Sociedade Nacional de Belas Artes, Rua Barata Salgueiro, 36, Lisboa. De 2ª a 6ªfeira das 12 às 19h; e sábados das 14 às 20h. Até 15 de julho