Poucos minutos antes do início da cerimónia, já se sentia alguma ansiedade pelo começo da conferência do projeto “Todos Queremos Um Bairro Melhor”. Nas conversas que se escutavam no Museu da Eletricidade, discutiam-se ideias para dar mais vida às cidades portuguesas. No fundo, o objetivo central da iniciativa da VISÃO e da Comunidade EDP, com o alto patrocínio da Presidência da República, que ao longo de dez semanas pediu a participação da comunidade no envio de propostas para dinamizar os nossos bairros.
A partir das 324 candidaturas recebidas, foram escolhidas dez ideias, que receberam 35 mil euros (cinco prémios de 5 mil euros e cinco prémios de 2 mil) para criar projetos concretos. Números que Martim Avillez Figueiredo, administrador da Impresa, utilizou para dar o pontapé de saída da conferência. “Temos que aprender a conhecer os bairros”, confessou.
Algo que Thom Aussems sabe como poucos. O CEO da Trudo é um dos grandes especialistas mundiais na recuperação de zonas degradadas das cidades e abriu a sua intervenção com três ideias simples para dar outra vida aos bairros: “Ouvir, ver e falar”. Parece básico, mas é a receita que defende para começar a perceber como está um bairro. “Fazemos grandes pesquisas e esquecemo-nos de, simplesmente, pedir a opinião dos habitantes”.
Em termos “macro”, Aussems identifica seis fatores chave para o declínio dos bairros: sociais, físicos, económicos, culturais, de segurança e de estruturas. ?”É importante identificá-los e percebê-los. Muitas vezes, os atores políticos respondem demasiado tarde a estes elementos. Prevenir torna mais fácil resolvê-los”, garante.
Mas para dar nova vida aos bairros é essencial criar projetos simples “que mudem dramaticamente a atmosfera” – o que Thom Aussems designa como “game changers”. Foi o que teve de criar para mudar o bairro de Woensel West, em Eindhoven, onde enfrentou o drama da acumulação extrema de pobreza. É o resultado das políticas de construção de áreas habitacionais para “despejar” as classes mais desfavorecidas da população. Opções que acabam por serem geradoras de inúmeros problemas, como a prostituição de rua, a criminalidade, tráfico de drogas. E, com o tempo, a falta de serviços básicos. Um ninho de problemas sociais que acaba por inviabilizar o espírito comunitário que deve estar presente em qualquer bairro.
Para atacar o problema promoveu o lançamento de vários “game changers”: a organização de atividades culturais, para ligar as pessoas, habitação acessível de qualidade, para trazer novas populações ao território, e horários escolares alargados, com currículos mais ricos. Foram os catalisadores que faltavam em Woensel West e que podem fazer a diferença noutros locais.
Miguel Stilwell, administrador da Comunidade EDP, fechou a cerimónia com um voto de confiança na vontade e capacidade dos portugueses “fazerem mais pelos seus bairros.”
Artigo originalmente publicado na Visão de 7 de maio