Já se sabe que não há planeta B e que idealmente cada um deve fazer a sua parte para contribuir para um futuro sustentável. E a vários níveis. Se é possível ganhar novos hábitos de mobilidade para reduzir a pegada ambiental, por exemplo, mais difícil poderá ser o contributo quando se trata de alterar uma habitação já existente e pouco eficiente ao nível energético. Ou talvez não. Para sensibilizar para um habitar sustentável, uma mãe e uma filha suecas, ativistas ambientais, Linnea e Simone Kreutzer, estão a correr a Europa para divulgar o conceito da Passive House. De 18 a 22 de maio passam pelos distritos de Lisboa (18), Aveiro (19) e Porto (20 a 22).
E o que é uma Passive House? É uma casa que é passiva no recurso a aquecedores ou ar condicionado, dispensando-os, recorrendo antes a uma abordagem ativa que vá ao cerne da questão, deixando o espaço habitacional com conforto térmico em todas as estações do ano.
Entre as regras de ouro a seguir para ter uma Passive House está a necessidade de apostar num isolamento correto, que efetivamente evite as fugas de ar quente, com janelas adequadas e com um sistema de ventilação com recuperação de calor que forneça ar novo sem deixar o calor sair. Tudo isto somado, garantem os especialistas deste sistema, consegue-se poupar cerca de 90% da fatura energética com aquecimento (ou refrigeração).
A apadrinhar as duas ativistas ambientais está a Passivhaus Portugal, membro do Passivhaus Institute para a implementação e desenvolvimento do conceito em Portugal, que recebe através da sua rede, o projeto “Passive Voyage” em Portugal.

Linnea e Simone chegaram a Lisboa esta 5ª feira e vão visitar uma Passive House em construção em Mafra, acompanhadas pelo Certified Passive House Designer. No dia 19 de Maio partem para Aveiro, onde terão como anfitriã a equipa da Homegrid, empresa de projeto e consultoria Passive House. Aí visitam a 1ª casa com certificação Passive House em Portugal, um escritório e uma moradia reabilitados, e ainda o 1ª projeto turístico certificado. O dia 20 de Maio marca a chegada ao Porto, onde permanecem até dia 22, com as visitas já confirmadas a uma moradia certificada no Mindelo, a um escritório e loja Passive House na Maia, e a um fabricante e instalador de janelas em Braga.
Portugal atrasado na corrida
Obrigatório em alguns países, regiões e cidades, entre os quais Luxemburgo, Bruxelas ou Frankfurt (onde se prevê que em 2050 todo o parque edificado público e privado seja Passive House), por cá, o sistema Passive House tem trilhado um caminho mais lento mas há cada vez mais sensibilidade para o tema, a reboque da questão das alterações climáticas e não só.
Transformar uma casa construída pelo método tradicional numa Passive House é possível, lembra João Gavião, arquiteto e um dos fundadores da Associação Passivhaus Portugal, que sensibiliza e forma profissionais entre arquitetos, engenheiros e construtores, para a necessidade de se apostar em casas mais sustentáveis.
E como se pode melhorar o desempenho do edifício? “Dando um tratamento adequado a toda a envolvente do edifício. O isolamento térmico é fundamental – e aqui é também importante evitar o isolamento exagerado pois em climas mais quentes isso pode provocar o sobreaquecimento – tal como as janelas, que devem ser adequadas e, sobretudo, bem instaladas. Temos todas as soluções disponíveis no mercado em termos de caixilharia, em termos de vidros de perfis intercalares, etc. O importante é que não haja perdas de calor muito relevantes”, realça João Gavião.
Ter um sistema de ventilação adequado e eliminar fissuras nas paredes que promovam infiltrações e humidades “que estimulam as trocas de ar não controladas” são também regras básicas a seguir para garantir o conforto térmico da casa. “Deste modo é possível garantir um ambiente interior confortável de uma forma puramente passiva”, reforça ainda o responsável, lembrando a necessidade de reduzir as emissões de CO2 associadas à utilização dos edifícios.
A “Passive Voyage” das ativistas ambientais começou no início de abril, na Suécia, de onde são naturais, e vai percorrer 20 países, com visita a 150 Passive Houses. O objetivo é conhecer e dar a conhecer o padrão Passive House, bem como alertar para a necessidade de construir e viver de forma sustentável, reduzindo os consumos de energia dos edifícios e a concentração de CO2.
Especialistas em Passive House, a dupla, durante estes dois meses e meio da sua jornada, tem vindo a deslocar-se de forma sustentável, utilizando apenas comboio e autocarro e pernoitam exclusivamente em Passive Houses e visitam obras, empresas e instituições ligadas à Passive House. O projeto pode ser acompanhado em www.instagram.com/passivevoyage