Sete em cada 10 portugueses com mais de 55 anos possui casa própria e mais de metade já não paga empréstimo ou hipoteca. À pergunta se aceitaria viver num lar de idosos, quase metade (47,3%) ainda não decidiu e 23% responde que não.
Estas são apenas algumas das conclusões do I Barómetro do Consumidor Sénior em Portugal elaborado pela Fundação MAPFRE, pertencente à seguradora espanhola, que pela primeira vez estudou o comportamento dos consumidores com mais de 55 anos no nosso país, um grupo que representa cerca de 40% da população portuguesa (3,8 milhões de pessoas).
Neste estudo com uma amostra de 1 100 pessoas, cerca de 70,7% não tem intenção de mudar de residência e apenas 16% tenciona mudar de casa em menos de 10 anos. No entanto, apenas 28,1% não deixa de parte a possibilidade de renovar a sua casa para melhorar as acessibilidades e a adaptar às condições físicas da idade.
“Não existem diferenças substanciais nos padrões de consumo entre os idosos portugueses e espanhóis”, sublinhou à Visão fonte oficial da Fundação Mapfre. Ainda assim, diz, “poder-se-ia interpretar que os espanhóis têm um nível mais elevado de propriedade da casa própria (85% vs. 76%) e um nível de endividamento mais baixo (19% vs. 24%), pelo que experimentarão uma maior sensação de segurança, uma vez que a posse de um tal bem pode protegê-los de um possível aumento do peso das rendas e ajudá-os a complementar as suas pensões de reforma. Em Espanha, tal como acontece em Portugal, investir em habitação é um traço cultural”.
Apoio em casa é o melhor
“O Estado e nós próprios achamos que o paradigma de proteção aos nossos idosos deveria ser o apoio domiciliário. As pessoas deveriam encontrar resposta para o seu problema habitacional durante a velhice na sua própria casa, só que o apoio domiciliário é caro e também aqui falta mais investimento estatal”, critica Manuel de Lemos, presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), sublinhando que o Estado tem sido errático apesar das muitas promessas feitas.
“Na realidade, o que temos do Estado é uma não resposta ao longo destes anos. Quando lhes falamos de projetos prometem-nos verbas, mas estas tardam sempre a chegar independentemente dos diferentes quadros comunitários”, queixa-se o responsável. “E com o PRR temo que não será diferente. Há muita aprovação mas depois acaba por haver pouca obra”, reforça ainda.
E não só. “Os projetos que vão ser feitos com verbas do PRR foram orçamentados com base em preços de 2018 e de 2019, ora estamos em 2023 e o preço por metro quadrado subiu exponencialmente, sobretudo nos últimos meses. As altas taxas de juro tornam praticamente impensável a opção das Misericórdias pedirem financiamento à banca, pois as suas tesourarias foram todas embora com o Covid”, aponta Manuel de Lemos, lembrando ainda que as verbas do PRR apenas contemplam a construção, deixando de fora os equipamentos necessários para os lares.
Atualmente existem 308 instituições Santa Casa que gerem 508 lares da terceira idade com uma capacidade para 27 863 pessoas. Mas não chega. As listas de espera são extensas, a pressão da procura é muita e há necessidade de reforçar a oferta. E até há dinheiro, a questão é gerir de forma racional e célere os largos milhões que a ‘bazuca’ do Plano de Recuperação e Resiliência tem, mais precisamente 217 milhões que se destinam a melhorar a resposta aos lares e ao apoio domiciliário aos seniores.