Pode um centro comercial ser autossustentável nos seus consumos energéticos e reduzir a sua pegada ecológica? O desafio parece gigantesco tão gigante quanto a enormidade de milhares de metros quadrados que ocupam estes edifícios. Mas é mesmo esse o objetivo que o grupo Ingka, de origem sueca, proprietário em Portugal dos centros comerciais Mar Shopping Matosinhos e Mar Shopping Algarve, pretende atingir quando definiu como meta para os seus espaços a neutralidade carbónica até 2030.
E de que forma se pode atingir essa meta? De variadíssimas maneiras, desde a forma como se gerem recursos como a energia elétrica ou a água, passando pela reciclagem de resíduos até a iniciativas que envolvam lojistas e toda a comunidade de clientes dando, por exemplo, um maior enfoque aos produtos mais sustentáveis. Neste momento, os centros comerciais MAR Shopping Algarve e MAR Shopping Matosinhos, pertencentes à Ingka Centres, já conseguiram reforçar as metas ambientais do Grupo ao subirem mais um degrau rumo ao desafio de neutralidade carbónica até 2030 com a conquista de galardões BREEAM, o principal e mais credível método mundial de análise de sustentabilidade, aplicado ao planeamento de projetos, infraestruturas e edifícios. Uma certificação estabelecida a vários níveis e que os centros portugueses pretendem elevar com a construção de centrais fotovoltaicas que garantam toda a produção de energia necessária para os dois espaços comerciais.
“Os dois centros já consomem energia 100% renovável mas é comprada à rede. Com a instalação dos parques fotovoltaicos iremos produzir toda a energia que queremos para ser autossuficientes. O primeiro vai avançar no Algarve, com a instalação de 2.500 painéis com capacidade de produção de 1 MW no parque de estacionamento do centro. A obra vai arrancar nas próximas semanas devendo estar concluída até ao final do Verão. Em relação a Matosinhos, estamos neste momento em fase de estudo”, disse à Visão Mário Barros, Cluster Operations Manager da Ingka Centres para Portugal, Espanha, Itália e Reino Unido. O parque fotovoltaico do Algarve vai custar cerca de 1,3 milhões de euros e será construído num dos parques de estacionamento exteriores do edifício.
“Isto é apenas uma parte do nosso plano de sustentabilidade. O planeta está num momento de viragem e para fazer essa viragem devem ser as empresas, que têm capacidade de mobilização, a dar os primeiros passos. Queremos não só chegar à neutralidade carbónica em 2030. Aspiramos também a criar um movimento maior na sociedade, junto dos nossos parceiros, lojistas e clientes que faça com que as pessoas percebam que todo o tipo de ações, sejam estas pequenas ou grandes, fazem a diferença”, reforçou o responsável, dando como exemplo a campanha Green Black Friday que foi lançada com a parceria dos lojistas e onde se colocava à disposição dos clientes produtos mais sustentáveis.
Equipamentos de distribuição de água de baixo consumo, iluminação LED, aproveitamento das águas pluviais, reciclagem de resíduos e gestão racional da luz natural, são algumas das formas de trazer sustentabilidade para os edifícios e que estão a ser praticadas nos espaços do grupo Ingka.
Os centros Ingka que surgiram depois de 2016, como é o caso do MAR Shopping Algarve, foram já projetados e construídos de acordo com os critérios para a obtenção do certificado na categoria “Nova Construção”, distinção de que o espaço de Loulé dispõe. “Recentemente, ambos os centros comerciais conquistaram o BREEAM na categoria “Em Uso”, tendo o MAR Shopping Algarve, com mais de quatro anos, obtido as classificações de “Excelente” e “Excecional” nos âmbitos de performance e gestão do edifício, respetivamente, e o MAR Shopping Matosinhos, com mais de 12 anos, obtido a de ‘Muito Bom’”, refere-se no relatório a que a Visão teve acesso em primeira mão.
Refira-se que a certificação BREEAM avalia os empreendimentos em três categorias – “Nova Construção”, “Em Uso” e “Remodelação”, correspondendo estas às diversas fases de conceção e uso dos edifícios. A “Nova Construção” monitoriza o desempenho sustentável dos edifícios nas fases de projeto e construção, e a de “Em Uso” mede o mesmo parâmetro, que incluem as características do edifício e os procedimentos de gestão do mesmo.
As áreas em que o MAR Shopping Algarve obteve melhores classificações (acima de 50%) para a obtenção da certificação “Nova Construção” foi em “Energia” (88%), “Água” (56%) e “Uso do Solo e Ecologia” (70%). Já, no âmbito da certificação “Em Uso”, a performance do edifício obteve classificações acima de 50% em todos os parâmetros analisados, nomeadamente “Saúde e Bem-Estar” (78,8%), Energia (70,1%), “Transportes” (55,6%), “Água” (97,5%), “Materiais” (92,3%), “Lixo” (100%), “Uso do Solo e Ecologia” (66,7%) e “Poluição” (77,3%). Em termos de gestão do edifício, as classificações foram ainda melhores: “Gestão” (84,8%), “Saúde e Bem-Estar” (94,6%), Energia (73,3%), “Água” (88,5%), “Materiais” (90%), “Uso do Solo e Ecologia” (100%) e “Poluição” (91,7%). No ano passado, o centro comercial de Loulé reciclou 69% dos resíduos produzidos na operação, mais 23% que em 2019. Em ambos os anos, nenhum resíduo foi mandado para aterro.
Com 12 anos de existência, o MAR Shopping Matosinhos obteve uma classificação de “Muito Bom” no que concerne à performance do edifício, tendo obtido as melhores classificações (acima de 50%) nas vertentes de Saúde e Bem-Estar” (72,7%), “Energia” (59,3%), “Transportes” (55,6%), “Água” (80%), “Materiais” (76,9%), “Lixo” (100%) e “Uso do Solo e Ecologia” (50%). Já no que à gestão do edifício diz respeito, a qual obteve também a classificação de “Muito Bom”, os parâmetros com melhores níveis foram: “Gestão” (76,1%), “Saúde e Bem-Estar” (78,4%), “Água” (80,8%), “Materiais” (70%) e “Poluição” (66,7%)”.
“Desde o ano passado, o MAR Shopping Matosinhos investiu na renovação de todos os seus WC, onde foram implementados equipamentos de muito baixo consumo, estimando poupar 15% no consumo de água em 2021 face ao ano passado. Por outro lado, com vista a alcançar a autonomia em termos de necessidade de água para as suas operações, o centro está a concluir a construção de um tanque para reaproveitamento da chuva e níveis freáticos altos para lavagens e equipamentos técnicos”, refere-se no mesmo comunicado.
Ao nível energético, também o MAR Shopping Matosinhos foi construído de forma a permitir uma grande incidência de luz natural, permitindo poupar energia. Recentemente, o centro comercial substituiu todo as luminárias e equipamentos de refrigeração para aumentar a eficiência energética. Face a 2019, o espaço de Matosinhos alcançou uma redução de 29% na fatura de eletricidade. Quanto ao aproveitamento de resíduos foi possível destinar à reciclagem 69,3% dos resíduos produzidos, sendo que 0% foi para aterro. Comparativamente a 2017, o centro comercial reduziu em 28% a quantidade de lixo produzido.
Um dos objetivos da Ingka Centres era que, este ano, todos os seus centros comerciais, distribuídos por 45 localizações em 15 países, já dispusessem de certificação BREEAM.
Em tempos ‘normais’ os centros da Ingka acolhem, em média, 460 milhões de visitantes por ano, um número que irá chegar a um bilião nos próximos cinco a sete anos, estima o grupo, referindo que no total trabalham com 1.600 as marcas que operam em 7.000 lojas. Em 2025, o grupo deverá ter em funcionamento 70 centros comerciais.