Assim que a pandemia chegou a Portugal duas dúvidas existenciais pairaram de imediato sobre o mercado imobiliário: passaria a existir mais oferta de casas para arrendar via alojamento local (AL) e de que forma os preços de venda iriam comportar-se agora que os estrangeiros estavam mais arredados de Portugal devido à Covid-19?
Terminado que está o ano 2020, a plataforma Casafari passou a pente fino todos os anúncios publicados nas várias plataformas do mercado através de um algoritmo que permite identificar se a mesma casa está repetida em vários sites e agências, filtrando a oferta real nos distritos de Lisboa, Porto e Faro, sem duplicações. E chegou a duas conclusões para estas questões: a oferta de casas para arrendar atingiu um acumulado de 43.235 imóveis, um acréscimo exponencial de 67% refletindo a entrada de imóveis vindos do AL e o preço médio das casas anunciadas não só não baixou como até aumentou 6%, fixando-se em 2.146 euros por metro quadrado (m2).
“O relatório conclui que, em 2020, mesmo em situação de pandemia, os preços dos apartamentos para venda, em Portugal, mantiveram-se resilientes, e o mercado imobiliário manteve-se estável aos efeitos da pandemia COVID-19. No entanto, e face à atual crise no setor do turismo, a oferta de casas para arrendar registou uma subida considerável”, refere o comunicado da empresa, realçando o caso do distrito de Lisboa, onde a oferta de apartamentos T1, por exemplo, disparou uns expressivos 78.17%.
Os preços médios dos apartamentos para arrendar diminuíram 11.74% em 2020, fixando-se em 11 euros por metro quadrado (m2), com o preço médio de arrendamento a situar-se em €820. O distrito de Lisboa é o que apresenta o preço por metro quadrado mais elevado, a rondar os 13 euros/m². Da oferta de 24.210 imóveis para arrendar no distrito de Lisboa, apurou-se que o preço médio de arrendamento se situou em €1.016.
“No que se refere aos preços médios de arrendamento e oferta de apartamentos disponíveis, é ainda de realçar a quebra de preços nas três tipologias analisadas, com maior incidência para a tipologia T3, a registar uma quebra de 15.49%. Por sua vez, a oferta de casas disponíveis para arrendamento registou um elevado crescimento, em todas as tipologias analisadas, consequência da crise no setor do turismo que levou a que diversos proprietários de alojamentos locais disponibilizassem os seus imóveis no mercado de arrendamento de longa duração. A tipologia T1 foi a que apresentou o maior crescimento da oferta disponível, um aumento de 78.17%”, sublinha-se no relatório da proptech do imobiliário.
No mercado de arrendamento do Porto verificou-se um decréscimo dos preços médios e um aumento do stock disponível nas três tipologias analisadas. A tipologia T2 é a que apresenta uma maior variação em relação ao preço, com uma quebra de 10.08%, e a tipologia T1 a registar o maior aumento no stock disponível, atingindo um significativo crescimento de 72.12%. A nível global, verificou-se um aumento de 70.40% no stock de apartamentos disponíveis, que se traduz num total de 7.254 imóveis para arrendar no distrito do Porto, com o preço médio de arrendamento de €683.
Seguindo a tendência dos distritos de Lisboa e Porto também em Faro se registou um aumento assinalável da oferta de imóveis disponíveis para arrendar – cerca de 70% para as três tipologias analisadas. Foram 2.850 casas anunciadas com um preço médio de arrendamento de €671.
Preços de vendas não baixam
Quem precisou de comprar casa em 2020 e esperou por uma baixa de valores não teve outra alternativa senão resignar-se à chamada “resiliência dos preços”, como gostam de caracterizar os operadores de mercado.
Todos os distritos, à exceção de Viseu, que registou uma quebra de 4.62%, assistiram a um aumento dos preços médios, em 2020. Destaca-se o distrito de Braga, a registar a maior subida do ano, com um crescimento de 9.09%, e Bragança, com uma subida de 8.21%. Segue-se o distrito da Guarda (8.76%) e Coimbra (7.87%), na Região Centro.
Sem surpresas, a capital continuou a ser o distrito com os preços mais elevados, sendo, no entanto, o distrito que registou o menor crescimento – de apenas 0.87%, no preço médio de venda de apartamentos.
Lisboa, Cascais e Oeiras foram os concelhos da Grande Lisboa com o preço médio de venda mais elevado, €444,213, €416,543 e €331,481, respetivamente. Os concelhos de Alenquer, Azambuja e Cadaval apresentam os preços médios de venda mais acessíveis para apartamentos usados com valores de €115.560, €108.725 e €93.649, respetivamente.
A norte, Porto (€283,916), Matosinhos (€238,428) e Póvoa de Varzim (€185,448) são os concelhos que apresentam o preço médio de venda mais caro. Já os concelhos de Lousada (€108.533), Amarante (€98.388) e Marco de Canaveses (€94.280) a apresentar os valores mais baixos.
Descendo para Sul, encontramos as casas mais caras anunciadas nos concelhos de Loulé (onde se situa o célebre Triângulo Dourado– Vale do Lobo, Quinta do Lago e Vilamoura) onde o preço médio quase bate os 300 mil euros (mais precisamente €296.269). No top 3 algarvio segue-se Vila do Bispo e Lagos, com preços de €272,583 e €262,295 respetivamente. Se quiser comprar uma casa mais barata no Algarve o ideal será procurar em Silves, Vila Real de Santo António e Alcoutim onde se registaram os valores mais baixos, respetivamente €164.701, €160.431 e €104.180.
“Os dados obtidos através deste relatório mostram que apesar da pandemia, o valor dos ativos imobiliários manteve-se elevado e os preços têm-se verificado estáveis, o que nos leva a crer que, se a tendência atual se mantiver, o impacto da pandemia no mercado, poderá ser reduzido em áreas onde já existia uma elevada procura antes da pandemia. No entanto, é de salientar que o arrendamento apresenta um cenário diferente, com novas tendências impulsionadas pela pandemia, tais como o trabalho remoto, e que leva a uma maior procura por áreas menos centrais e longe dos centros urbanos”, concluiu, em comunicado, Nils Henning, fundador da Casafari.