Os operadores do mercado residencial esperam que, uma vez que o surto de Covid-19 esteja controlado, as vendas de casas demorem cerca de 12 meses a regressar as níveis pré-crise. A conclusão é do Portuguese Housing Market Survey (PHMS) de março, um inquérito realizado mensalmente pelo RICS e pela Confidencial Imobiliário com um painel de 150 empresas e que concluiu ainda que as expetativas quanto aos preços das casas apontam para a recuperação apenas num período de 14 meses.
“Em geral, os resultados do PHMS de março de 2020 apontam para uma deterioração abrupta no sentimento dos operadores a atuar no mercado habitacional, com as medidas adotadas para combater a propagação do coronavírus a restringir fortemente as expetativas relativas às vendas. O indicador de procura (consultas por novos compradores) caiu em março (saldo líquido de -59% dos inquiridos a reportar uma queda), após dois meses de subidas consecutivas, registando uma descida em todas as regiões cobertas pelo inquérito (Lisboa, Porto e Algarve)”, revela o inquérito.
Ao mesmo tempo, o volume de vendas também diminuiu de forma acentuada durante o mês de março, com um saldo líquido de -52% dos respondentes a notar um declínio. “Com as medidas de distanciamento social a deverem manter-se nos próximos meses, as expetativas de vendas de curto-prazo estão agora firmemente em território negativo, com um saldo líquido de -71% dos inquiridos a esperar que os níveis de transações caiam no curto-prazo”, aponta-se no relatório.
No que se refere aos preços, os operadores registaram um declínio já em março (saldo líquido de respostas de -18%), com as expetativas quanto à sua evolução a apresentarem-se negativas para todas as regiões quer num horizonte de 3 meses quer de 12 meses. Em termos nacionais, espera-se uma descida de preços de pouco mais de 7% no próximo ano.
No mercado de arrendamento, o impacto na atividade foi igualmente acentuado, com os operadores a registarem um declínio da procura, conforme mostra o saldo líquido de respostas de -37%, que se afigura como a primeiro leitura negativa desde indicador desde 2014. Em termos futuros, os inquiridos (saldo líquido de resposta de -63%) antecipa uma queda nas rendas no curto-prazo.
“É natural que as expetativas de curto-prazo estejam em baixa, refletindo a incerteza sobre quando esta crise do Covid-19 irá terminar. Esse é um fator crítico, por razões de saúde e económicas. Ainda assim, as opiniões quanto ao período pós-crise são menos pessimistas e antecipam uma recuperação no espaço de 12 meses depois que o surto esteja controlado. Alguns operadores notam que já anteriormente estava a acontecer uma desaceleração do mercado, motivada pelas alterações legais aos regimes dos Residentes Não-Habituais e dos Vistos Gold. Ainda assim, há uma perceção global de que a retoma irá depender muito da extensão que esta crise terá na economia e do impacto no rendimento das famílias e na disponibilidade das empresas em voltar a investir”, realçou Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário,
Para Simon Rubinsohn, economista coordenador do RICS, corrobora, lembrando que a descida sentida nos indicadores da atividade atual bem como nas expetativas futuras claramente refletem as medidas emergência adotadas para limitar a propagação do coronavírus. “O feedback também sugere que o legado do Covid-19 poderá ser de tal dimensão, que qualquer retorno ao que pode ser chamado de “normalidade” na economia vai levar tempo e que as famílias vão manter-se cautelosas também por um bom tempo”, rematou ainda o responsável.