O BYD Atto 2 tem várias características que nos permitem antecipar que este será um modelo de sucesso. Para começar, tem o formato da moda: é um SUV. Depois, apesar de estar situado na categoria dos compactos, acaba por ter espaço para funcionar como um familiar – pelo menos considerando a realidade do nosso mercado. Não menos importante, revelou uma qualidade de construção convincente e um design interior mais conservador, ao gosto europeu. E, claro, está ‘recheado’ de tecnologia, incluindo algumas novidades práticas no sistema de infoentretenimento, e apresenta uma vasta lista de equipamento de série.

Espaço para esticar as pernas
Confessámos que ficámos surpreendidos pela dimensão do Atto 2, sobretudo no interior. Esperávamos um carro mais acanhado. Assim num primeiro contacto, o espaço útil para os passageiros não nos pareceu muito diferente do que o Atto 3 disponibiliza. Aliás, o Atto 2 é, até, um pouco mais alto. E graças ao formato mais ‘quadrado’ da traseira, o espaço para os passageiros do banco de trás é generoso. Não só para as pernas: este é o único SUV compacto onde, quando sentado nos bancos de trás, o autor deste artigo não sentiu a cabeça a roçar no tejadilho. A grande diferença para o Atto 3 está no espaço disponível para o quinto passageiro (o lugar do meio do banco de trás), que, no Atto 2, é mais reduzido, típico do segmento.
O design da traseira também acaba por beneficiar o espaço da mala, sobretudo em altura, que oferece 400 litros. A base da mala, que esconde um útil espaço de arrumação para os cabos de carregamento, pode ser removida ou instalada numa zona mais baixa. Se deixarmos esta base na posição mais elevada e rebatermos os bancos traseiros (formato 60:40), ficámos com uma enorme mala com fundo plano (mais de 1400 litros de capacidade). Infelizmente, não há frunk apesar de existir espaço para adicionar este tipo de mala frontal – abrimos o capô e verificámos que há muito espaço por cima do motor. Em conversa com os responsáveis da BYD, foi-nos dito que a marca já está a considerar a hipótese de criar uma frunk para o Atto 2, o que significa que futuras versões deste modelo podem vir a ganhar um pouco mais uma zona arrumação.
Não sentimos que os acabamentos sejam verdadeiramente premium, mas todas as superfícies acima da cintura são suaves. Só encontramos plásticos rígidos em zonas onde normalmente não tocamos. Também ficámos bem impressionados com o isolamento acústico, que permite um ambiente a bordo tranquilo. O ruído de rolamento é quase inaudível e o ruido aerodinâmico é menor do que o habitual, mesmo a velocidade elevada em autoestrada.
Três dedos para controlar o AC
Como é típico da BYD, há poucos botões físicos e o controlo é muito centrado no ecrã central, generoso e rotativo (pode funcionar na horizontal ou na vertical). Felizmente, a consola central inclui botões para acesso direto às funcionalidades mais usadas, como mudança do modo de condução e de regeneração ou para ativar o desembaciamento do para-brisas. E os comandos ao volante são ‘reais’, não seguindo a má tendência dos painéis táteis. Consideramos que este é um bom equilíbrio entre os exageros do ‘tudo-no-ecrã-tátil’, estilo Tesla, e os ‘botões-por-todo-o-lado’ comuns em algumas marcas mais tradicionais.
No entanto, a BYD continua a desenvolver funcionalidades para facilitar a ligação homem-máquina. A mais importante é evolução contínua do sistema de interação por voz. Agora é possível fazer vários pedidos seguidos. Por exemplo: “fecha todos os vidros” e “muda a temperatura do ar condicionado para 20 graus”. O que torna a interação por voz mais fluída e prática. Neste campo, destaque para a barra na parte inferior do ecrã com ícones de atalho para as funcionalidades (ou apps) mais utilizadas. É importante realçar que podemos personalizar estes atalhos de acordo com as nossas preferências e necessidades. Ao estilo dos smartphones, também há atalhos de acesso rápido quando fazemos um swipe de cima para baixo. E, uma vez mais, estes botões virtuais são personalizáveis. Por exemplo, podemos adicionar um atalho para desativar o irritante aviso de ultrapassagem da velocidade máxima – recordamos que este alerta é obrigatório e é reativado sempre que se desliga e volta a ligar o carro.

Mas a novidade que consideramos mais prática é um género de ‘ovo de Colombo’. Se tocarmos com três dedos no ecrã podemos controlar diretamente a climatização: movimentos na vertical fazem alterar a temperatura e movimentos na horizontal alteram a velocidade da ventoinha. Simples, intuitivo e prático.
Naturalmente, o sistema é atualizável remotamente (OTA) e, segundo informações da marca, o infoentretenimento corre sobre um processador de alto desempenho. O que significa que é de esperar que surjam atualizações ao longo da vida deste automóvel e que o desempenho do sistema se mantenha fluido.
Pela negativa, a interface continua a ter uma organização complexa, que exige algum tempo de habituação. E há algumas falhas na hierarquia nos menus, ou seja, há funcionalidades importantes que estão relativamente escondidas.
Como é normal na BYD, a app de acesso remoto tem muitas funcionalidades como, por exemplo, funcionar como chave de acesso ao carro. Aliás, é possível partilhar chaves digitalmente, o que pode ser útil em algumas situações em família. É, ainda, possível aceder ao carro através de NFC (sensor no retrovisor), seja através de cartão, de wearable ou de smartphone.
Naturalmente, há suporte para Apple CarPlay e Android Auto, o que expande ainda mais as possibilidades de utilização de apps. A integração está bem conseguida, mas, durante o teste, experimentámos várias falhas de ligação usando um smartphone Samsung Galaxy S24 Ultra.
Vem com (quase) tudo
A lista de equipamento fornecidos de série é enorme, como, aliás, é habitual nesta marca chinesa. Mas há alguns elementos que vale a pena destacar pelo seu valor e funcionalidade. É o caso do teto panorâmico, que reforça a luminosidade interior; da bomba de calor, que permite aumentar a eficiência, sobretudo durante os dias mais frios; a tecnologia V2L, para, por exemplo, fornecer energia elétrica a uma máquina de café ou a um grelhador; ou a câmara 360, que dá uma boa ajuda nas manobras. Ainda mais inovadora é a bateria auxiliar de 12 volts, que, como a bateria principal (de tração), usa a química LFP (Fosfato de Ferro-Lítio). Isto permite que este componente tenha uma garantia de 6 anos ou 150 mil quilómetros, bem mais do que qualquer bateria de chumbo. A bateria LFP tem, ainda, outras duas vantagens importantes: pegada ambiental e peso menores.

Ao volante
Os responsáveis da BYD sublinharam que o Atto 2 foi desenvolvido e afinado para agradar aos europeus. O que se nota. O carro tem um bom ‘pisar’. De outro modo, sentimos o Atto 2 agarrado à estrada e com boa capacidade de lidar com lombas e irregularidades. Está longe de ter um comportamento desportivo, mas é previsível e, não menos importante para o segmento, confortável. Já referimos o bom isolamento acústico, a que se junta bancos envolventes q.b. com um nível apropriado de dureza. O fundo plano é uma boa notícia para quem vai atrás e não ouvimos quaisquer ruídos parasitas.
O Atto 2 está longe de ser um elétrico explosivo, apresentando uma curva de aceleração muito progressiva. Não é, portanto, o melhor elétrico para fazer ultrapassagens, mas desenvolve bem e é capaz de atingir uma velocidade máxima elevada.
Na verdade, só não gostámos do ângulo de inclinação do volante, mais ao estilo de um furgão do que de um automóvel. O que, claro, afeta negativamente a posição de condução.
Quanto à autonomia, este primeiro contacto não nos permite tirar grandes conclusões. Ainda assim, o percurso levou-nos do centro de Madrid até às montanhas a norte da capital espanhola, onde conduzimos em temperaturas próximas de ‘0’, nada ‘amigas’ da autonomia, e acumulámos um grande desnível (passámos dos 1500 metros de altitude). Parte do percurso foi feito ainda em autoestrada, sempre à velocidade máxima permitida. No final, foram cerca de 150 km acumulados e o indicador de autonomia indicava, precisamente, 99 km. Como começámos com 98% de carga, é fácil concluir-se que seria muito fácil fazer 300 km, já que abusámos um pouco em boa parte do percurso.
Quanto ao carregamento, a BYD anuncia 37 minutos para carregar dos 10 aos 80 porcento num carregador rápido. Nada de especial para os tempos que correm, mas se considerarmos que bateria é de 45 kW, facilmente percebemos que os 65 kW de potência de carregamento máxima não é, assim, tão baixa quanto isso (quanto mais capacidade tem a bateria, mais fácil é aplicar maiores potências de carregamento). De qualquer modo, a velocidade de carregamento é a característica menos impressionante do Atto 2.
Prós
– Espaço a bordo
– Esquipamento de série
– Controlo e personalização do infoentretenimento
Contras
– Autonomia não impressiona
– Baixa velocidade de carregamento
Primeira opinião
Acreditamos que o Atto 2 é mais um bom trunfo para a ‘mão’ da BYD. A relação qualidade/preço é atrativa – o preço base até baixa para €29.990 se o cliente optar pelo contrato de crédito proposto pela marca. Não há, atualmente, nenhum outro SUV no mercado que ofereça tanto neste segmento de preço. E não estamos a referir-nos apenas a especificações. Referimo-nos, também, à qualidade sentida a bordo, com destaque para o conforto e habitabilidade. Apesar de ser apresentado como um SUV compacto, tem níveis de habitabilidade próximos de uma categoria superior. Como referimos no início, o Atto 2 pode muito bem funcionar como carro de família. Estas características também fazem-nos acreditar que este BYD vai ser um sucesso no mercado dos TVDE, já que a autonomia é q.b. para uma utilização urbana e suburbana.
E, claro, a tecnologia marca muitos pontos. As baterias LFP com arquitetura blade já deram muitas provas de durabilidade e segurança; o infoentretenimento, apesar de precisar de umas afinações na usabilidade, está carregado de funcionalidades; o V2L é um extra prático em muitas situações; e, no global, sente-se até algum luxo a bordo.
Voltando à autonomia, é bom verificar que as marcas já começaram a perceber que não precisam de ter baterias enormes em todos os modelos. Um sinal de maturação do mercado. Para muitos perfis de utilização, uma autonomia real em redor dos 300 km, como a que o Atto 2 oferece, é perfeitamente satisfatória para o dia-a-dia e permite viagens longas ocasionais. Como já várias vezes referimos, é preferível demorar mais um pouco em viagens longas esporádicas, em consequência dos carregamentos, do que andar a transportar diariamente uma bateria mais pesada e (muito) mais cara para fazer poucos quilómetros. De qualquer modo, se preferia ter mais autonomia, a BYD anunciou que irá lançar, mais para o final do ano, um Atto 2 com uma bateria maior, capaz de ultrapassar os 400 km de autonomia segundo a norma WLTP.
Se procura um SUV elétrico com espaço q.b. para a família que irá ser usado, maioritariamente, em percursos urbanos e suburbanos, o Atto 2 é uma proposta tentadora. E não se preocupe, já que também permitirá passeios longos com a família, situação em que até é capaz de funcionar como um gigantesco powerbank para, por exemplo, alimentar uma tenda ou um grelhador num piquenique.
Tome Nota
BYD Atto 2 – Desde €31.490
Características Potência e binário 130 kW, 290 Nm ○ Acel. 0-100 km/h: 7,9 s ○ Vel. máx. XXX km/h ○ Bateria: 45 kWh ○ Autonomia WLTP 312 km ○ Potência de carregamento: 11 kW em AC e 65 kW em DC ○ Dimensões (AxLxC): 1,675×1,839×4,310 m