Entre 2012 e 2017, Portugal investiu cerca de 100 milhões de dólares (mais de 84 milhões de euros) em novos negócios na área das tecnologias. A estimativa foi apresentada hoje pelo estudo O Estado da Indústria Tecnológica na Europa levado a cabo pela Atomico. O estudo, que envolveu um inquérito a mais de 3500 empreendedores, revela ainda que, em Portugal, o investimento per capita em negócios inovadores e de base tecnológica ronda os quatro dólares (cerca de 3,3 euros). Este valor contrasta com as estimativas apontadas para Israel, que lidera este indicador com um valor per capita de 304 dólares (cerca de 256 euros), EUA, com 246 dólares (cerca de 207 euros), e Suécia, que lidera o campeonato europeu, com 123 dólares (cerca de 103 euros), seguida da Irlanda, com 111 (quase 94 euros).
O estudo da Atomico revela ainda que, em 2017, terão sido investidos 19,1 mil milhões de dólares (cerca de 16,1 mil milhões de euros) em startups e novos negócios tecnológicos na Europa. É um novo recorde em volume de investimento – mas não no número de negócios, que passou de 3.720 em 2016 para 3.449 em 2017. O que leva a crer que houve um aumento do valor médio investido em cada negócio.
Mesmo que não tenha uma relação direta com o provável aumento dos investimentos por cada projeto, há mais um dado sintomático a ter em conta nas tendências que dominam o capital de risco da atualidade: os investimentos inferiores a dois milhões – que geralmente são aplicados nos estágios iniciais das startups – registaram uma quebra de 12% de 2016 para 2017.
Cibersegurança, ferramentas de desenvolvimento, lar, jogos, moda, e Internet das coisas lideram a lista de subsetores tecnológicos que concentram mais investimentos, referem os autores de O Estado da Indústria Tecnológica na Europa.
O talento continua a ser um dos desafios prementes para a evolução da indústria tecnológica – e neste indicador as notícias são maioritariamente positivas para o nosso mercado: Portugal figura nos primeiros lugares dos mercados europeus que mais crescem a contratar profissionais de tecnologias (2,7%, o que significa que supera o crescimento médio de 2,6% na Europa), mas ainda não consegue ir além do 21º lugar do ranking e não se sabe bem ao certo a evolução de 2016 para 2017 (em 2016 eram mais de 75 mil profissionais neste setor; a Atomico não revela o número para 2017, apesar de apresentar graficamente um potencial decréscimo da mão-de-obra especializada em Portugal).
Na Europa há cerca de 5,5 milhões de profissionais na área das tecnologias e da informática.
Ainda na caracterização do grupo profissional: Os EUA podem continuar na liderança dos investimentos e captação de novos negócios, mas a Europa permanece na linha da frente da formação de massa cinzenta. Em 2014, as universidades europeias produziram 58.941 doutorados em ciências, tecnologias e engenharias. No mesmo ano, os EUA não foram além dos 28.328.
No que toca à diversidade e à mobilidade e geográfica e social, a realidade está longe de ser uniforme: 95% das startups de base tecnológica são fundadas por homens, apesar de a larga maioria dos líderes de empresas do setor se dizerem a favor da diversidade de género. Só nove por cento dos executivos das empresas tecnológicas europeias são mulheres; nas empresas de capital de risco serão cerca de 13%.
Na geografia, destaque para o facto de 21% dos novos negócios na área das tecnologias serem iniciados noutros países que não os da origem dos fundadores. A mobilidade geográfica pode ser descrita ainda com dois números: os países do Sul da Europa (Portugal incluído) têm um défice na balança de importação e exportação de talentos para a área das tecnologias; o Reino Unido e a Irlanda têm um superavit de 26%. Destaque ainda para um indicador geográfico revelador da mobilidade geográfica: 33% dos investimentos feitos em novas empresas são aplicados em mercados diferentes dos da origem dos investidores.
Segundo a Atomico, Lisboa, a capital nacional que os desígnios nacionais tentam meter no mapa das tecnologias, caiu do 5º para o 8º lugar do ranking das cidades europeias mais procuradas para lançar startups. Londres, Paris, Moscovo, Madrid e Berlim lideram no número de programadores e produtores de tecnologias profissionais. Por outro lado, atratividade nem sempre é acompanhada pelo número de profissionais: Lisboa não surge nos primeiros 20 lugares das cidades com mais profissionais de tecnologias – ao contrário de cidades como Zurique, Dublin, Copenhaga, Bucareste e Budapeste, que se encontram em países com populações equivalentes ou menores que as de Portugal.
O facto de Lisboa não figurar nos 20 primeiros lugares das cidades europeias com profissionais de tecnologias poderá estar relacionado com a dispersão geográfica deste grupo profissional no nosso País, que contrariar a histórica tendência de centralismo.
Por fim, um novo relance sobre o vil dinheiro que faz mover esta e qualquer outra indústria: Para quem precisa de contratar, o “arco-íris” remuneratório vai da média anual de 59,7 mil dólares (50, 4 mil euros) em Berlim, passa pelos 32 mil euros (27 mil euros) de Lisboa, e termina nos 15 mil dólares (mais de 12 mil euros) de Bucareste. O acesso ao talento é o critério mais valorizado por quem tem de escolher um local para os novos negócios – em especial no que toca à contratação de engenheiros de software, que lideram por larga margem as subclasses mais procuradas dentro do total de profissionais das tecnologias.