Desde a primavera que a Secretaria Geral do Ministério da Administração Interna (SGMAI) tem vindo a testar a convergência entre a tecnologia Tetra, que hoje é usada na Rede Nacional de Emergência e Segurança (RNES, que é conhecida por SIRESP), e a quarta geração de telemóveis (4G ou LTE). Os testes efetuados na lógica de piloto têm envolvido 100 profissionais da Agência Nacional de Proteção Civil, PJ, PSP, e GNR, fez saber hoje a Motorola, durante a estreia do Centro de Inovação da fabricante de equipamentos de telecomunicações em Londres.
Durante os testes, foram usados smartphones que operam nas redes de 4G, mas dispõem de software que lhes permite comunicar por voz ou texto com terminais de rádio que operam com a tecnologia Tetra.
Com este software, os operacionais podem não só comunicar com terminais típicos da rede SIRESP, como dispõem ainda de modos de funcionamento que são típicos das redes de emergência, como a comunicação em simultâneo entre várias pessoas geograficamente dispersas, a emissão de alertas ou a criação de hierarquias de comunicações ou utilizadores.
A plataforma que permite que terminais LTE comuniquem com terminais hoje usados na rede SIRESP dá pelo nome de Wave.
A Motorola é uma das acionistas da sociedade que gere atualmente a rede SIRESP.
Helder Simões Santos, gestor de Vendas da Motorola Solutions em Portugal, confirmou esta quarta-feira que o projeto-piloto estendeu-se para lá da data prevista inicialmente, mas não forneceu qualquer informação sobre um investimento do Estado Português numa hipotética migração da tecnologia Tetra para a 4G dentro da rede SIRESP. «Esta migração faz sentido do ponto de vista tecnológico, mas a decisão caberá sempre ao Estado Português», sublinhou Helder Simões Santos, quando inquirido pelos jornalistas à margem da estreia do Centro de Inovação da Motorola de Londres.
A migração de Tetra para LTE poderá implicar a substituição de terminais usados por bombeiros, polícias e entidades da proteção civil, bem das frequências usadas nas comunicações de emergência e segurança. Na UE, a Tetra usa combinações de frequências dos 380 MHz aos 383 MHz e dos 390 MHz aos 393 MHz; enquanto a 4G combina frequências nas bandas de 900 MHz, 2100 MHz e 2600 MHz.
Com a LTE, as redes de segurança e emergência passam a ter uma maior largura de banda que, no limite, abre caminho ao uso de terminais com capacidades computacionais superiores. O que pode ser especialmente útil para a transmissão de vídeo em direto ou o desenvolvimento de apps especializadas que podem gerar maiores níveis de interação ou que aumentam a eficiência dos operacionais no terreno. Apesar de uma eventual substituição de terminais, a migração para a 4G teria a vantagem de tirar partido da infraestrutura já instalada pelos operadores comerciais.
Helder Simões Santos dá como exemplo o trabalho que tem sido levado a cabo com as entidades de segurança e proteção civil britânicas, que já deram início à migração de Tetra para LTE. Com a nova tecnologia, a rede de emergência e segurança britânica vai passar a usar as antenas e troços de rede que os operadores comerciais já instalaram, mas deverá ainda contar com a instalação de mais 300 a 400 estações base, que garantem a cobertura em locais que, por terem menos população, não tinham sido contemplados como prioridade pelos operadores comerciais que hoje disponibilizam comunicações em 4G.
Para dar início a esta migração, as autoridades britânicas terão ainda adicionado frequências à 4G, para uso específico da rede de emergência e segurança. As comunicações efetuadas nesta rede partilham os mesmos cabos que ligam cada uma das estações base, mas dispõem de um canal próprio que se encontra cifrado.
Helder Simões Santos confirma também que, caso avance em Portugal, uma eventual migração nunca poderá ser concluída numa questão de dias, e terá sempre de exigir tempo necessário para os diferentes trabalhos de construção civil, atribuição de espectro, instalação de novos equipamentos ou de software.
Apesar de ser hoje uma das principais promotoras do LTE, a Motorola recorda que a rede Tetra, que hoje é usada pela maioria dos serviços de segurança e emergência do mundo, ainda tem uma longa vida pela frente. «A Tetra tem garantidamente um período de vida de útil até 2030, devido aos contratos que assinámos na Áustria, na Noruega e noutros países que obrigam a manter a Tetra até essa data. Mas entre os utilizadores de rádio, há quem garanta que a Tetra vai continuar a ser usada muito depois de 2030».