A computação quântica tem vindo a evoluir exponencialmente nos últimos cinco anos, mas declarar uma clara vitória sobre os supercomputadores clássicos ainda é prematuro. Agora, investigadores da Google dizem ter conseguido determinar as condições nas quais os computadores quânticos conseguem bater os seus ‘primos’ clássicos. A equipa usou o processador de qubits Sycamore para correr o RCS (Random Circuit Sampling), um algoritmo quântico simples que essencialmente gera uma sequência aleatória de valores.
Segundo este trabalho, quando sujeito a muita influência de ruído enquanto corria o RCS, o Sycamore podia ser batido pelos supercomputadores. No entanto, quando o ruído ia abaixo de certo limite, a computação quântica tornou-se tão complexa que o supercomputador não o podia acompanhar. Em algumas estimativas, os investigadores projetam que o supercomputador precisaria de dez biliões de anos para apanhar o Sycamore.
O estudo foi publicado na revista científica Nature agora, depois de ter estado em pré-publicação no arXiv no ano passado. Michael Foss-Feig, investigador de computação quântica na Quantinuum, afirma que “a Google fez um trabalho muito bom em clarificar e endereçar muitos dos temas conhecidos do RCS”. Já Sergio Boixo, responsável de computação quântica da Google, lembra que este trabalho não significa que estes computadores vão substituir as máquinas atuais, pois não conseguem realizar operações típicas como enviar e-mails ou guardar fotos: “os computadores quânticos não são mais rápidos – são diferentes”, lembrando que estas máquinas vão ser usadas para realizar tarefas mais complexas e consideradas impossíveis até agora.
Em 2019, a Google publicou um estudo que dizia que os supercomputadores demorariam dez mil anos para conseguir equivaler um RCS de 200 segundos do seu computador quântico de 53 qubits. Rapidamente, a IBM reagiu com um estudo que sugeria que um supercomputador faria o mesmo de poucos dias. Depois, em 2023, a IBM declarou que o seu computador de 127 qubits poderia resolver problemas matemáticos complexos que estão além da computação clássica, mas surgiram vários estudos para o desmentir.
Este trabalho da Google mostra o efeito que o ruído pode ter na computação quântica, determinando que mesmo variações pequenas, como de 99,4 para 99,7% de taxas sem erros, podem levar o Sycamore a comportar-se como se estivesse num novo estado, equiparado à matéria transitar de sólido para líquido.