O alerta chegou no início do ano, vindo de um telescópio de rastreio, o ZTF, nos EUA. Tinha sido detetada uma fonte de luz visível de características invulgares, o que merecia a atenção de um dos grandes, ou seja, de um telescópio mais potente, como é o caso do Very Large Telescope (VLT), do Observatório Europeu do Sul (ESO), no Chile.
Apontou-se o VLT, assim como outros telescópios, na direção da fonte e descobriu-se que a origem da tal luz misteriosa era um buraco negro supermassivo, com 500 milhões de vezes a massa do Sol, a engolir uma estrela, expelindo um jato durante o processo. Sendo este o exemplo mais distante de um evento desta natureza até agora identificado, lê-se no comunicado de imprensa do ESO. Uma vez que este jato aponta praticamente na direção da Terra, foi também a primeira vez que foi descoberto na frequência do visível, tornando-se possível a deteção destes eventos extremos com recurso a telescópios óticos.
Quando se aproxima demasiado de um buraco negro, as estrelas são destruídas, ou engolidas, por estes objetos. Em cerca de 1% dos casos, surgem jatos de plasma e radiação que são ejetados a partir dos polos do buraco negro em rotação, num fenómeno descrito em 1971 pelo astrofísico John Wheeler como “um tubo de pasta de dentes apertado no meio com toda a força,” fazendo com que o sistema “esguiche matéria pelas duas pontas”, recorda o comunicado. “Até agora observámos apenas uma mão cheia deste tipo de eventos que permanecem, por isso, mal compreendidos e são bastante exóticos”, disse Nial Tanvir, da Universidade de Leicester no Reino Unido, que liderou as observações com o VLT.
Este tipo de eventos extremos, chamados de disrupção de maré, ocorrem quando uma estrela se aproxima perigosamente das fronteiras de um buraco negro. Isto leva a que as forças de maré no campo gravitacional do buraco negro estiquem a estrela, puxando com tanta força que a quebram. Os restos da estrela caem então para o interior do buraco negro. Durante o processo produz-se um clarão de luz que vai desaparecendo com o tempo, mas que é possível detetar a partir da Terra, explica o ScienceAlert.
Os resultados deste trabalho de investigação estão publicados na revista Nature e Nature Astronomy.
Um vídeo do evento está disponível abaixo.