É uma experiência inédita e pode ajudar a criar uma plataforma para estudo de doenças como as arritmias, bem como abrir caminho ao desenvolvimento de um coração humano artificial: um peixe criado a partir de células estaminais do músculo cardíaco nadou durante 108 dias emulando o batimento do coração.
O peixe biohíbrido foi desenvolvido na Escola de Engenharia e Ciências Aplicadas da Universidade de Harvard, numa equipa liderada por Kit Parker que já tinha desenvolvido outros tipos de animais marinhos híbridos com base em células cardíacas de ratos, entre outros feitos da bioengenharia. Agora, o foco foi criar um peixe que movesse de forma coordenada o corpo e a barbatana caudal para gerar propulsão e se movimentar na água. Para este efeito, os cientistas colocaram camadas de cardiomiócitos, a fibra muscular cardíaca responsável pelas contrações do coração, nos dois lados da barbatana, com uma contração de um lado a gerar um esticão do outro e gerando o movimento, num circuito fechado.
Depois, a equipa implementou um nódulo elétrico autónomo que, à semelhança de um pacemaker, garante um batimento ritmado, como um coração humano. Com esta invenção, o peixe biohíbrido conseguiu nadar durante 108 dias consecutivos, ao longo de 38 milhões de batimentos, batendo o recorde dos seres anteriores que a equipa criou e que nadaram ‘apenas’ uma semana.
A inovação vai abrir caminho para criar uma plataforma de estudo de doenças relacionadas com o processo de atividade cardíaca, como é o caso das arritmias. Por outro lado, “o objetivo supremo passa por conseguir criar corações artificiais que possam ser usados em transplantes em crianças”, admite Kit Parker ao EurekAlert. O investigador conta que “a maior parte do trabalho em criar tecido cardíaco ou corações, incluindo algum do trabalho que fizemos, foca-se na réplica das funcionalidades anatómicas ou na réplica do simples batimento cardíaco em tecidos criados. Aqui, estamos a inspirar-nos na biofísica do coração, que é mais difícil. Agora, em vez de usar as imagens do coração como uma planta, estamos a identificar os princípios biofísicos fundamentais que fazem o coração funcionar, a usá-los como critério para o design e a replicá-los num sistema, num peixe vivo, onde é muito mais fácil ver se tivemos sucesso”.
O estudo completo foi publicado na revista Science. Veja o vídeo publicado pela Universidade de Harvard no YouTube.