Uma equipa de cientistas da agência japonesa para a Ciência e Tecnologia Marinha quis descobrir os limites para a vida dos micróbios. Já se sabe há anos que existem micróbios vivos por baixo dos leitos dos oceanos e que estes corpos conseguem sobreviver mesmo em condições climáticas adversas ou em ambientes tóxicos, mas não se sabia se sobrevivem onde a comida escasseia. Ao que tudo indica, sim e durante milhões de anos.
A equipa liderada por Yuki Morono, especialista em geomicrobiologia, conduziu uma expedição no Pacífico do Sul, num local onde as correntes oceânicas se cruzam e que é tido como o sítio ‘mais morto’ dos oceanos, onde quase não existem nutrientes necessários à sobrevivência. A equipa extraiu amostras de barro e outros sedimentos a uma profundidade de mais de 5700 metros para confirmar que havia muito pouco oxigénio, ou seja, pouco material orgânico para alimentar as bactérias encontradas. Ainda assim, depois de adicionar elementos químicos a partes das amostras retiradas, foi possível detetar e isolar micróbios vivos ao longo de quase 560 dias, noticia a imprensa internacional.
Em condições normais, cada centímetro cúbico de lama do fundo do mar tem mais de cem mil células. Nestas amostras, existiam apenas mil células para um centímetro cúbico. Os biólogos tiveram de desenvolver técnicas especializadas para conseguir analisar cuidadosamente as amostras e, ao adicionar alguns nutrientes, concluíram que na amostra da camada com 101 milhões de anos, em apenas 65 dias, ‘acordaram’ os organismos vivos e acabaram por detetar mais de um milhão de células por centímetro cúbico.
Uma investigação anterior já tinha mostrado que havia células vivas em sedimentos com mais de 15 milhões de anos, mas este estudo leva-nos ainda mais longe em termos de magnitude no tempo geológico. Os micróbios encontrados pertencem a mais de oito grupos de bactérias já conhecidos, o que indicia que aprender a capacidade de sobreviver em condições extremas é uma característica alargada a várias classes.
Os investigadores tentam agora perceber o que é que os micróbios fizeram durante este tempo todo, com a possibilidade de que tenham estado a dividir-se através de um processo extremamente lento a ser a mais provável.
Este novo trabalho mostra que a vida microbiana é bastante persistente e encontra formas de sobreviver, mesmo em condições muito adversas.