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A fauna da Antártida poderá, afinal, ser um pouco mais povoada do que se pensava: na zona Oeste do polo gelado, a mais de 800 metros de profundidade, há uma colónia de micro-organismos que habita no lago subglacial Whillans, em plena escuridão.
A descoberta foi levada a cabo por uma equipa de investigadores da Universidade do Estado Luisiana, que publicou na revista Nature um artigo que admite a hipótese destes micro-organismos se alimentarem de energia extraída das rochas (outros investigadores que reagiram à descoberta também acreditam que esses micróbios possam, na verdade, comer literalmente as rochas a que têm acesso).
A descoberta poderá não demorar muito a produzir ecos para lá do nosso planeta. Martyn Tranter, investigador da Universidade de Bristol, da Inglaterra, acredita que o trabalho dos investigadores norte-americanos pode reforçar a tese de existência de micro-organismos em planetas com oceanos ou lagos subterrâneos que se encontram cobertos por gelo.
«A equipa de investigadores abriu uma janela no que toca ao estudo de comunidades de micróbios no subsolo da camada de gelo do Oeste Antártico, e também quanto à forma como elas vivem e se auto-organizam», comentou, quando inquirido pelo Space.com, Martyn Tranter.
A hipótese de uma comunidade de micróbios prosperar em local subterrâneo e em escuridão poderá vir a figurar no roteiro de exploração que tanto Agência Espacial dos EUA (NASA) como da Agência Espacial Europeia (ESA) estão atualmente a desenhar para a lua de Júpiter que dá pelo nome de Europa, e para o satélite natural de Saturno que foi batizado de Encedalus. Europa e Encedalus costumam ser apontados como os locais com maior probabilidade de albergarem vida extraterrestre. A aplicação dos conhecimentos obtidos pelos investigadores da Universidade do Luisiana também poderá revelar eventual utilidade na exploração de Marte.
Na comunidade científica há ainda quem prefira refrear o otimismo: Chris McKay, astrobiólogo de um dos laboratórios da NASA, lembra que a descoberta publicada recentemente na revista Nature poderá não ter muita aplicação na caça ao extraterrestre.
O investigador norte-americano recorda que, na verdade, o Lago Whillans tem comunicação com oceano que garante, por várias vias, os nutrientes necessários à sobrevivência dos micróbios.