O futuro das cidades inteligentes e a transição para uma mobilidade elétrica estiveram no centro do debate durante o evento Maiores e Melhores do Portugal Tecnológico, promovido pela Exame Informática. O painel reuniu especialistas de várias áreas para abordar uma questão essencial: Portugal tem infraestruturas suficientes para responder às crescentes exigências energéticas? A discussão trouxe à tona desafios, mas também avanços e inovações que estão a moldar o panorama nacional.
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Carla Tavares, responsável pelos Centros de Inovação de Renováveis e Comercial da Galp, começou por sublinhar que o país está bem posicionado em termos de infraestrutura urbana, sendo um exemplo na densidade de postos de carregamento comparativamente a outros países.
No entanto, também apontou que a transição apresenta desafios distintos entre áreas urbanas e rurais. “Se não tivermos rede, não temos utilizadores; se não tivermos utilizadores, não há justificação para investimento na rede”, explicou. A especialista destacou que a utilização dos postos de carregamento ainda não atingiu os valores desejados, mas acredita que a inovação será a chave para superar estas barreiras.
Entre os projetos apresentados o Caxias Living Lab, um projeto da Galp, destacou-se como um exemplo prático e inovador. Esta comunidade energética-piloto, composta por 20 edifícios e 10 produtores de energia, em Caxias, utiliza mais de 200 painéis solares para gerar energia verde, que é armazenada em baterias descentralizadas e numa bateria comunitária de última geração.
Os eletrões verdes são usados para alimentar termoacumuladores elétricos, bombas de calor e carregadores de veículos elétricos. Após suprir as necessidades locais, a energia excedente é partilhada dentro da comunidade, aumentando a eficiência do consumo e reduzindo a dependência da rede elétrica em cerca de 30%.
Os resultados esperados incluem a produção anual de 140 MWh de energia limpa e a eliminação de 20 toneladas de emissões de CO2. Esta experiência em ambiente real integra também infraestruturas como o Mercado Municipal de Caxias, a Escola Básica Nossa Senhora do Vale e várias habitações privadas. Carla Tavares sublinhou que o projeto não só promove a sustentabilidade como também aproxima os cidadãos da transição energética, permitindo-lhes participar ativamente como produtores e consumidores de energia.
João Filipe Neves, responsável pela área de clientes da E-Redes, reforçou a necessidade de assegurar que a energia utilizada pelos veículos elétricos seja de fonte renovável. “Se não tivermos energia renovável, não faz sentido falar em mobilidade elétrica”, afirmou. João Filipe Neves realçou o aumento do autoconsumo em Portugal, que passou de 75 mil para 250 mil utilizadores em apenas três anos.
Este crescimento é acompanhado por investimentos em redes inteligentes, com a instalação de 25 mil contadores automáticos diários no último ano. Estas redes permitem monitorizar e ajustar o comportamento energético em tempo real, aumentando a eficiência e o controlo sobre o consumo.
Por outro lado, Anabela Bento, gestora de desenvolvimento de negócios do ISQ, abordou o impacto da eficiência energética nos edifícios, uma área que representa 75% do consumo total de energia, segundo a Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG). Anabela Bento destacou que uma intervenção no parque imobiliário pode ser decisiva para reduzir o consumo energético. “Esta eficiência pode passar pela substituição de materiais no fim de vida e pelo desenvolvimento de modelos de negócio circulares, como o eco-design e soluções de energia como serviço”, explicou.
A gestora apresentou ainda exemplos de projetos do ISQ focados na sustentabilidade urbana, como o uso de espaços verdes para sombreamento, a promoção de luz natural nos edifícios e a monitorização do consumo energético para uma gestão mais eficiente. “Cidades mais sustentáveis tornam-se mais interessantes para investir e viver”, sublinhou.
João Filipe Neves complementou esta visão ao referir que a flexibilidade dos consumidores será um pilar essencial para o futuro. Projetos da E-Redes procuram envolver os cidadãos na gestão da rede, permitindo que estes possam carregar, vender e partilhar energia de forma mais ativa e eficiente.
Anabela Bento destacou ainda que a sustentabilidade não é apenas uma necessidade ambiental, mas também um fator de competitividade. “Ser sustentável vende melhor, é mais atrativo e traz vantagens como reduções fiscais. Se todo o ecossistema for sustentável, as cidades terão mais capacidade de atrair investimentos”, concluiu.
O debate terminou com uma visão otimista sobre os próximos anos, marcada pela aposta em tecnologia para facilitar a transição energética sem complicar a vida dos utilizadores. “A maioria das pessoas não tem noção de que já é possível viver de forma mais sustentável, desde que as soluções sejam simples e acessíveis”, resumiu Carla Tavares. Já Anabela Bento apontou a importância das parcerias entre empresas para enfrentar os desafios globais: “juntos, podemos fazer mais pelo planeta e melhorar a nossa qualidade de vida”.