Vivemos numa sociedade eminentemente tecnológica, que nos obriga a todos a uma permanente atualização de conhecimentos. Esta permanente atualização é a única forma de continuarmos a acompanhar as novidades que todos os dias surgem. Mais do que isso, é a única forma de permanecermos ao longo da vida socialmente úteis e funcionais num mundo em acelerada mudança.
Efetivamente, nas últimas décadas a aceleração das inovações tecnológicas, e a sua rápida introdução num mercado global, aumentou de tal forma que, sem uma forte aposta na literacia científica e tecnológica, corremos o risco de um dia acordarmos e uma larga percentagem da população simplesmente não perceber o mundo que os rodeia (há até quem defenda que esse dia já chegou, e que é à sua chegada que se devem muitos dos estranhos fenómenos políticos que vivemos no mundo, mas esse tema não abordaremos hoje.
E foi a pensar nisso, ou seja, na necessidade de criar grandes eventos que promovam a literacia científica e tecnológica, que no próximo dia doze de outubro vai acontecer “A Maior Aula de Programação do Mundo”, aberta a todos os que nela queiram participar, no Técnico Innovation Centre, no jardim do Arco do Cego, em Lisboa.
Mas este tema da literacia científica e tecnológica insere-se numa questão mais alargada que é a educação e formação de talento em áreas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). Existe hoje a perceção de que é fundamental para o desenvolvimento económico e social das nações investimento na formação de talento nestas áreas. Se, no presente, esta perceção é largamente generalizada e consensual, a verdade é que esta necessidade de investimento não é de agora. Efetivamente, os países que a partir do século XVIII tiveram a visão de que o investimento na investigação e desenvolvimento e na formação de talento em áreas STEM seriam a chave para o seu desenvolvimento económico e social, cresceram a um ritmo muito maior do que aqueles que não o fizeram (ou o fizeram mais tarde). São precisamente esses os países que hoje designamos, de uma forma genérica, por “países desenvolvidos”.
Portugal apenas percebeu que o seu desenvolvimento económico dependia do investimento na formação de talento em áreas STEM no início do século XX. Em 1911, no despacho de criação do Instituto Superior Técnico, o governo escrevia: “O nosso atraso provém apenas da insuficiência do nosso ensino técnico. Insuficiência que ontem era um mal e hoje é um perigo, dada a luta de competências que é preciso suportar na concorrência aos mercados do mundo”. Partimos, pois, para esta aposta na formação de talento em engenharia, ciência e tecnologia com cerca de 200 anos de atraso. Mas caminhámos rapidamente, sobretudo nas últimas três a quatro décadas, e hoje a qualidade do talento em engenharia, ciência e tecnologia que é formado nas melhores universidades portuguesas é internacionalmente reconhecido e tem contribuído de forma determinante para o desenvolvimento do país. O mercado de trabalho reconhece o valor deste talento e as nossas universidades e centros de investigação estão preparados para o formar. E, por isso, é preciso continuar a garantir o crescimento do investimento em ciência e tecnologia no nosso país. Quer por parte do governo, quer por parte das empresas privadas.