O encerramento de empresas em Portugal é um reflexo de problemas que vão além das crises económicas ou do aumento de custos. Falamos de como estes problemas estão profundamente ligados ao modo como encaramos e administramos os negócios. Assim, aforma como os negócios são geridos ‒ muitas vezes de maneira isolada, com resistência à colaboração e partilha e com um foco a curto prazo ‒ tem levado muitas empresas ao encerramento precoce. E o resultado está à vista, com mais 6% de empresas insolventesem 2024 e menos cerca de 1350 novas empresas a abrir portas face a 2023. Mas será que este destino é inevitável?A cooperação, a partilha de resultados ou de ideias entre empresas é um tabu entre gestores que preferem continuar a remar sozinhos até ao naufrágio. Noutros países, as fusões e concentrações são vistas como estratégias comuns para a otimização de custosou para ganhar músculo financeiro, criando empresas cada vez mais competitivas.No entanto, em Portugal, muitos empresários recusam sequer considerar esta ideia. A questão que se levanta é porquê?; será o medo de perder o controlo, orgulho ousimplesmente por não ser um caminho comum no nosso tecido empresarial? Seja qual for a razão, a verdade é que a colaboração entre empresas, no momento certo, poderá evitar muitas insolvências.
O nosso país precisa de uma mudança de mentalidade urgente. Os negócios não têm de ser um jogo solitário
Partilhar recursos, juntar equipas ou até dividir riscos são passos que fortalecem negócios. A visão a curto prazo é outro comportamento que pode prejudicar a gestão das micro e pequenas empresas. Ao viverem o dia a dia sem pensar no que vem a seguir, como quem tenta apagar um incêndio com um copo de água, as soluções tornam-se momentâneas, mas não resolvem os problemas estruturais.Ainda assim, existem ferramentas em Portugal para ajudar as empresas em dificuldades antes de caírem no abismo da insolvência. São mecanismos que permitem renegociar dívidas, ajustar prazos de pagamento e até conseguir cortes nas mesmas. Com a apresentação de um plano de negócio para a empresa, que inclua estratégias de vendas, reestruturações operacionais e reposicionamentos que provem que podem dar-lhecontinuidade, é possível, muitas vezes, dar uma nova vida a estas empresas. Parece simples, mas na realidade poucos empresários sabem que estas soluções existem ou como devem usá-las. E, mesmo quando sabem, hesitam em pedir ajuda especializada. O resultado acaba por ser empresas que poderiam ser salvas fecharem portas.Desta forma, o nosso país precisa de uma mudança de mentalidade urgente. Os negócios não têm de ser um jogo solitário. Trabalhar com outras empresas em que seja possível potenciar sinergias, apostar nas novas gerações e planear o futuro com visão a longoprazo são passos essenciais para mudar o rumo. É tempo de deixar de lado o orgulho, deconfiar e de colaborar.
Assim, as empresas portuguesas estão um passo mais perto de conseguir crescer, inovar e, acima de tudo, sobreviver.Vamos falar menos de problemas e começar a pensar nas soluções? O futuro das nossas empresas depende disso.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a EXAME nem espelham o seu posicionamento editorial.