Setembro marca o início de mais um ano. Não do ano civil, mas do ano escolar. Um mês de grande expetativa das crianças, mas, talvez com a mesma intensidade, um mês de grande liberdade para os pais. Voltam as rotinas e as regras em casa. Podemos regressar ao trabalho, depois de um período de descanso, o que não raras vezes traz consigo sentimentos de tristeza ou de depressão, especialmente se tivermos empregos que não nos preenchem (talvez seja uma boa altura para procurar mudar isso, se possível).
Gosto sempre de olhar para setembro como um período de recomeço. Aproveito as férias do verão para ler (quando me deixam), para pensar e para definir planos. Para perceber o que correu bem e aquilo que tem necessariamente de melhorar daqui para a frente. Falo de questões financeiras, de rotinas empresariais e profissionais e também da educação das crianças e dos projetos de futuro cá para casa.
Este Verão trouxe consigo outra surpresa. Tivemos um presente extra que veio compor a alegria (e a confusão) cá de casa. A nossa sétima filha. E é incrível como a descendência (biológica ou por afinidade) nos ajuda a colocar as coisas em perspetiva. Ajuda a percebermos o que é realmente importante nas nossas vidas e aquilo que podemos (facilmente) deixar para segundo ou terceiro plano.
Aproveitando os recomeços, talvez faça sentido pensar naquilo que é realmente importante nas nossas vidas, porque essa reflexão tem impactos profundos na forma como planeamos e vivemos o dia-a-dia. Em termos financeiros, saber o que é prioritário é fundamental para decidirmos onde vamos gastar o nosso dinheiro, algo especialmente útil em altura de corte de custos. Nestas alturas, saberemos deixar cair o que não é prioritário para dar lugar as despesas que precisamos mesmo de fazer. Lembro-me sempre das famílias que contactam a Reorganiza porque não têm dinheiro para pagamento dos seus créditos, enquanto gastam excessivamente noutras coisas que poderiam rapidamente eliminar.
É também em setembro que somos confrontados com alguns excessos de Verão. No Verão tendemos a ser condescendentes, porque achamos que merecemos determinado luxo ou fazer determinada despesa e acabamos por gastar mais do que planeado (ou desejável), esquecendo que teremos a despesa para pagar no futuro. O problema é que o futuro é setembro. É hoje. É hoje que temos de começar a pagar as dívidas do cartão de crédito, numa altura em que temos ainda de comprar os livros e material escolar, que todos os anos tratamos como imprevistos, embora saibamos que vamos ter essas despesas por esta altura.
Por fim, tudo isto é acompanhado de um ambiente económico de grande desafio. Os preços teimam em não parar de subir, embora o ritmo de subida tenha abrandado. A malfadada inflação, o imposto escondido que reduz o nosso poder de compra e nível de vida, daí ser tão importante combater, mesmo que tal implique provocar uma recessão que reduza o consumo e a procura. Sim, vamos ter, enquanto sociedade de reduzir o consumo e de adaptar outros hábitos, o que terá como consequência a queda dos preços.
Uma certeza que teremos neste novo recomeço é que temos de nos valer por nós próprios. Só podemos contar connosco (o que já não é mau). Temos de ganhar a consciência de que não podemos esperar que o Governo ou os patrões nos resolvam os problemas.
Como as eleições estão aí à porta, será de esperar uma redução de alguns impostos (os mais visíveis) e mais uns benefícios sociais distribuídos com pouco critério (que não o eleitoral), em troca do aumento dos outros impostos menos visíveis, não fossemos habituados ao aumento da carga fiscal todos os anos.
Neste início de ano, e como falamos de recomeços e de aulas, que tal aproveitarmos as oportunidades que nos traz para ajudarmos os nossos filhos a conviver melhor com a necessidade de fazer escolhas? De referir que as escolhas, embora podendo ter consequências financeiras, têm muito mais de afetos e de valores do que de matemática ou de literacia financeira. Os miúdos não precisam que lhes expliquemos o que é a taxa de juro ou o que é o orçamento familiar (embora não lhes faça mal aprenderem isso), mas precisam de critérios e de uma boa educação que os ajude a fazer escolhas. Precisam de país que lhes deem bons exemplos e que os ajudem a perceber o critério do certo e do errado. Da verdade e da mentira, esta última recentemente apelidada de inverdade. Aliás, a educação é muito mais efetiva quando é feita através do exemplo, e que maus exemplos damos tantas vezes aos nossos filhos…
E como o conseguir? Talvez começando os pais por perceber quais são os seus objetivos para este ano. Quais as suas prioridades. O que é importante nas suas vidas e na vida da sua família. Quais as mensagens e os campos que precisam de trabalhar? Depois, munidos do amor e da paciência que os devem caracterizar, transmitir bons exemplos, pela positiva, com segurança e sem alarmismos. Talvez tenhamos de adaptar alguns hábitos. De cortar com alguns vícios e de reforçar outras tantas virtudes. Cair e levantar, uma e outra vez. Começar e recomeçar. Simples? Não diria, mas certamente, um bom desafio para setembro!