As Licenças de Carbono, termo ainda desconhecido para muitos, irão, em breve, ganhar mais visibilidade, uma vez que cada vez mais países começam a adotar objetivos assentes na neutralidade carbónica. Esta mudança de paradigma vai deixar as empresas poluentes sob pressão para reduzirem drasticamente as suas emissões, ou compensá-las através de licenças, de forma a evitar multas ou até o encerramento por parte das autoridades.
Mas o que são as Licenças de Carbono? Essencialmente, são declarações que certificam legalmente as empresas a emitir uma tonelada métrica de dióxido de carbono, ou outros gases de efeito de estufa equivalentes. Estes certificados são concedidos pelos estados; alguns distribuídos gratuitamente a indústrias com importância considerada estratégica, enquanto outros podem ser comprados em leilões.
As Licenças de Carbono também podem ser transacionadas em bolsas, tais como a ICE e a CME, através de Contratos Futuros, que as deixam expostas à volatilidade própria da especulação. Quanto maior a procura, mais alto o preço, com a procura a ser determinada pelas expetativas de aumento do valor futuro dos ativos por parte dos investidores.
Torna-se assim claro que o preço das Licenças de Carbono tenderá a subir cada vez mais, muito devido às estratégias de descarbonização da economia adotadas por um crescente número de países. Na União Europeia, por exemplo, os preços das licenças subiram. No passado mês de dezembro, estavam nos 30 euros por tonelada métrica de CO2. Agora, as empresas terão de pagar mais de 50 euros, no seguimento da adoção da meta de reduzir 55% das emissões até 2030 e atingir a neutralidade carbónica até 2050. Neste caso, o que fez aumentar os preços foram as expetativas de que as emissões dos créditos venham a decrescer gradualmente, enquanto a procura aumentará, tendo em conta a necessidade de atingir a ambiciosa meta de neutralidade carbónica.
Esta dinâmica acabará por beneficiar o ambiente – algo que é raramente associado à “ganância” dos investidores. O aumento dos preços dos créditos vai forçar os grandes poluentes a adotarem processos mais sustentáveis, sob pena de sofrerem um subida dos custos de produção e a subsequente perda de competitividade face a outros que não negligenciarem o processo.
No entanto, tendo em conta que as metas de neutralidade carbónica ainda não foram mundialmente adotadas, há espaço para que ocorra concorrência desleal por parte de países que não se comprometeram à descarbonização da sua economia e cujas empresas terão, por isso, custos mais baixos de produção. Este cenário poderá forçar a União Europeia e os Estados Unidos da América, entre outros, a introduzir taxas do carbono nas suas importações, de forma a proteger as suas indústrias e, em última instância, incentivarem políticas ambientais positivas.
À medida que as preocupações com as alterações climáticas crescem, e mais nações apontam à neutralidade carbónica, a adaptação à nova realidade tornar-se-á uma luta pela sobrevivência por parte das indústrias com uma grande pegada carbónica. Por isso, é realmente encorajador ver alguns players-chave a mudar todo o paradigma – incluindo alguns improváveis, como as petrolíferas BP e Shell. As duas gigantes da indústria do petróleo comprometeram-se a reduzir drasticamente o seu impacto ambiental durante as próximas décadas, adotando formas mais limpas de extrair e transportar combustíveis, investindo em energias renováveis e, por último, contribuindo para a reflorestação de áreas devastadas.